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Huawei Sues USA Due to Ban on the Use of its Equipment by American Agencies

The company Huawei has filed a lawsuit against the United States government due to the legislative ban contained in the National Defense Authorization Act (NDAA), which forbids the company from supplying telecommunication equipment to federal agencies. The law also bars federal loans for the purchase of such products.

The case was filed before a federal district court in Texas, against the United States Government, the U.S. General Services Administration Administrator, the Secretary of Labor, the Secretary of Health and Human Services, the Secretary of Education, the Secretary of Agriculture, the Secretary of Veterans Affairs, and the Acting Secretary of the Interior.

According to the complaint filed, the 2019 NDAA, more specifically its Section 889, is unconstitutional as it directly forbids federal authorities from signing procurement agreements with Huawei to purchase telecommunication equipment or federal or granting federal loans for such purpose.

In short, Section 889 is not only contrary to the economic interests of the United States and its citizens, and ineffective at advancing U.S. security interests, it is also contrary to the Constitution of the United States.

Injuries to the U.S Constitution

The first injury to the U.S Constitution is the violation of the Bill of Attainder Clause, which prohibited that legislature impose punishment, without hearing the other party or trial.

The second unconstitutionality relates to the violation of the Due Process Clause, that prohibited legislation that would single out particular persons or deprivations of liberty. In this case, the legislative act affects business freedom.

The third unconstitutionality is the violation of the principle of the separation of powers, as Congress must not act as prosecutor, judge, and enforcer of the sanction of prohibition against the company, without any evidence of it having business connections with the Chinese government, as well as of threats to cybersecurity.

The company also claims that Section 889 of the National Defense Authorization Act bars Huawei from doing business with the federal government even as to agencies that have no significant connection to defense, information security, or national security.

It further argues that the U.S. law causes significant damages to Huawei’s business by creating unfair conditions amongst competitors.

Thus, the U.S federal government may purchase telecommunication equipment from Nokia, Ericsson, and other competitors, but cannot purchase products from Huawei.

Finally, Huawei requests that Section 889 of the 2019 National Defense Authorization Act be declared unconstitutional, as it violates the Bill of Attainder Clause, the Due Process Clause of the Constitution’s Fifth Amendment, and the Constitution’s Vesting Clause and resulting separation of powers.

Artigo publicado no portal jurídico Migalhas Internacional em 15/03/2019 (clique aqui).

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Segurança das infraestruturas de comunicações no Reino Unido: questões apresentadas pela Câmara dos Comuns à empresa chinesa Huawei

Em síntese, a questão da segurança cibernética nas redes de telecomunicações na perspectiva da segurança nacional é o alvo do momento, no contexto da disputa entre os Estados Unidos e a China pela liderança tecnológica e comercial.

A Câmara dos Comuns do Reino Unido, equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil, através de sua Comissão de Ciência e Tecnologia, apresentou formalmente questões sobre a segurança, no Reino Unido, das infraestruturas de comunicações à empresa Huawei. Narra a Comissão a preocupação quanto à legislação chinesa, especialmente a Lei de Inteligência Nacional (National Intelligence Law), aprovada em 2017, a qual demanda as empresas chinesas a colaborarem com os serviços de inteligência da China. As questões referem-se:

1. às medidas adotadas pela Huawei para demonstrar que os respectivos produtos e serviços não apresentam ameaças à segurança nacional do Reino Unido;

2. as respostas as ações em relação ao envolvimento de estados estrangeiros nas redes de comunicações de outras nações, como os aliados do Reino Unido (Five Eyes);

3. a extensão da obrigação da Huawei em colaborar com os serviços de inteligência nacional da China, mediante a utilização de hardware ou software, localizados no Reino Unido, para coletar dados britânicos.

Em resposta, a Huawei afirmou que a questão da cibersegurança está no DNA de seu negócio, bem como a privacidade dos usuários.Assim, investe quantias significativas em pesquisas e gestão (mais de dois bilhões de dólares), bem como certificações quanto à segurança por organizações imparciais. Informa que o Canadá não adotou nenhuma medida restritiva contra os produtos da empresa. Na nova Zelândia, a regulamentação dos serviços baseados na tecnologia 5G ainda está em andamento. A Austrália demandou exigências adicionais para o fornecimento dos produtos 5G, porém a Huawei permanece a maior fornecedora de equipamentos no país. Nos Estados Unidos, a legislação vigente somente restringe a utilização de verbas federais para comprar equipamentos, hardware e serviços, mas não há legislação restritiva dos negócios da Huawei.Argumenta, também, que a exclusão de determinado país ou empresa não contribui para a gestão da cibersegurança. Defende que uma política regulatória adequada pode incentivar a indústria para adotar melhores medidas de segurança cibernética, ao invés da mera proibição de determinado fornecedor, por discriminação sobre país de origem.

Sobre a questão da legislação chinesa, a Huawei informou que não há na legislação chinesa a obrigação da empresa a instalar backdoors (dispositivos que capturam informações e dados) em seus produtos, conforme declaração oficial do ministro das relações exteriores da China. Com base em opinião legal de especialistas contratados Huawei, não há obrigação legal de a empresa, sob determinação do governo, instalar backdoors, dispositivos de espionagem nos equipamentos de telecomunicações. A análise legal foi realizada com base na Lei de Contraespionagem (Counterspionage Law), Lei sobre Antiterrorismo (Anti-Terrorism Law), Lei de Segurança Cibernética (Cyber Security Law) e Lei de Inteligência Nacional (National Intelligence Law). Inclusive, a Lei de Segurança Nacional não autoriza o governo a determinar a implantação de dispositivos de vigilância nos equipamentos de telecomunicações. Também, afirma que a Lei de Inteligência Nacional não tem efeito extraterritorial sobre as empresas chinesas e seus funcionários localizados no exterior, como é o caso da Huawei UK. Por fim, diz que Lei Criminal da China não criminaliza a conduta de se recusar a instalar backdoor ou desabilitação das redes em relação aos consumidores. Afirma, ainda, que a Huawei nunca recebeu este tipo de exigência da parte das autoridades chinesas. Ao final, destaca o compromisso de investimento de três bilhões de libras esterlinas no Reino Unido, no desenvolvimento das futuras gerações de infraestruturas de comunicações.

Por outro lado, há críticas no sentido de que a legislação chinesa sobre inteligência nacional e contraespionagem pode não obrigar diretamente à instalação de backdoors, mas ainda assim há razões para preocupação. Os serviços de inteligência e contraespionagem da China podem ser expandidos para além das fronteiras nacionais.

Em síntese, a questão da segurança cibernética nas redes de telecomunicações na perspectiva da segurança nacional é o alvo do momento, no contexto da disputa entre os Estados Unidos e a China pela liderança tecnológica e comercial.

Artigo publicado no portal jurídico Migalhas em 13/02/2019. Para acesso ao artigo no portal, clique aqui.

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Livre comércio internacional versus segurança nacional (segurança cibernética) em redes de telecomunicações e internet

Análise do projeto de lei do Congresso dos Estados Unidos que proíbe a venda para o governo norte-americano de equipamentos de telecomunicações e internet das empresas chinesas Huawei e ZTE.

O presente texto apresenta a análise do tema do conflito entre o livre comércio internacional e a questão da segurança nacional (segurança cibernética) das redes de telecomunicações e internet, em análise de projeto de lei do Congresso norte-americano que proíbe a venda de equipamentos de telecomunicações por empresas chinesas ao governo dos Estados Unidos.

O tema encontra-se no contexto da guerra comercial entre os Estados Unidos e China tem impacto sobre os setores de tecnologia, internet e telecomunicações. Por um lado, o governo norte-americano acusa as empresas chinesas de não oferecerem padrões de segurança em seus equipamentos de telecomunicações e internet (chips, roteadores, etc) havendo sérios riscos à segurança cibernética das redes de telecomunicações, pois permitiria espionagem por governo estrangeiro, no caso a China. Por outro lado, as empresas chinesas negam esta acusação. Países aliados dos Estados Unidos estão cancelando contratos com a empresa Huawei e revendo os padrões de segurança em matéria de equipamentos de redes de internet e telecomunicações, como é o caso do Reino Unidos, Japão, Austrália, Canadá, entre outros. Em destaque, como pano de fundo, o futuro das redes de telecomunicações e internet, mediante a tecnologia 5G. No mercado norte-americano está em andamento a fusão empresarial entre as principais operadoras de telecomunicações T-Mobile e Sprint. A T-Mobile é controlada pela alemã Deutsche Telekom e a Sprint é subsdiária da japonesa SoftBank. A fusão depende de aprovação da Federal Communication Comission e do Departamento de Justiça. Os Estados Unidos percebe a China como grande ameaça de domínio da tecnologia 5G. No Brasil, as empresas brasileiras compram tecnologia das empresas Huawei e ZTE. Daí a relevância da análise do tema. Sobre este tema, já escrevi o artigo Guerra comercial entre EUA e China afeta mercados de tecnologia, internet e telecomunicações no Brasil, acessar clique aqui. E, na agenda regulatória da Anatel para 2019-2010 está o tema dos padrões de segurança das redes de telecomunicações a serem seguidos pelas empresas de telecomunicações.

A partir deste contexto, é que se analisa o projeto de lei do Congresso dos Estados Unidos denominado Defending U.S. Government Communication Act de 2018 que proíbe o governo norte-americano de utilizar ou contratar determinados equipamentos (chips, roteadores, etc) e serviços de telecomunicações. Segundo o texto oficial: “This bill prohibits federal agencies from procuring or obtaining, renewing or extending a contract to obtain ou procure, our entering into a contract whith an entity that uses any equipment, system, or service whith telecommunications equipment or services as a substancial or essential component of any system that is from Huawei Technologies Company, ZTE Corporation, or an entity reasonably believed to be owned or controlled by China”.

O projeto de lei está em análise do Committe on Homeland Security and Governmental Affairs. Na justificativa do projeto de lei, há menção aos relatórios das autoridades de defesa norte-americana que informam os riscos à segurança nacional dos produtos comercializados pela China, com o destaque às tecnologias adotadas no setor de telecomunicações. Assim, o aumento do investimento estrangeiro chinês nos Estados Unidos causa preocupações quanto aos componentes de infraestrutura na indústria de telecomunicações. Conforme informações oficiais, as companhias chinesas estão sistematicamente adquirindo holdings significativas no setor de telecomunicações e tecnologia da informação. Alega-se que estas companhias estão sob a influência do estado Chinês, controlado pelo partido comunista. O projeto de lei proíbe o governo norte-americano de comprar equipamentos de telecomunicações produzidos pelas empresas chinesas Huawei e ZTE Corporation. Em relação à Huawei, aponta-se vulnerabilidades nos equipamentos de rede de telecomunicações, não havendo padrões de segurança adequados, conforme declaração do exército norte-americano. Os equipamentos de redes de telecomunicações teriam vulnerabilidades (backdoors – porta dos fundos) que poderiam ser utilizadas para espionagem cibernética.

Também, afirma-se que a empresa viola o Internacional Emergency Economic Powers Act por ilegalmente vender equipamentos ao Irã. A empresa ZTE é acusada de ter vendido tecnologia ilegalmente ao Irã. Assim, os Estados Unidos está pressionado os países, seus aliados comerciais, para boicotar os produtos das empresas chinesas. Como consequência, diversos países (Japão, Reino Unido, Israel, Canadá, Austrália, entre outros) estão adotando medidas contras as empresas chinesas. Como uma das possíveis beneficiadas pelas ações do governo norte-americano é a empresa T-Mobile, a qual inclusive enfrenta ação judicial da Huawei, na disputa sobre patentes tecnológicas. No Nacional Security Strategy do governo Trump, a segurança econômica dos Estados Unidos está associada à questão da segurança nacional, daí o controle mais restrito sobre investimentos estrangeiros que impactam a economia norte-americana.

O tema apresenta diversas questões para análise política, comércio internacional e direito interno de cada país, na perspectiva da verificação da possibilidade e os limites à proibição de compra pelo governo norte-americano de equipamentos de redes de telecomunicações, sob o fundamento de risco à segurança nacional, a definição de requisitos mínimos de padrões de segurança dos equipamentos, a justa compensação à empresa de tecnologia na hipótese de proibição comercialização de equipamentos para o governo e suas agências federais.

Proibição legal de comercialização de equipamentos de redes de telecomunicações ao governo norte-americano, sob o fundamento de risco à segurança nacional: possibilidade e limites

Primeira questão, a possibilidade de proibição pelos Estados Unidos de venda de equipamentos de redes de telecomunicações ao governo americano por empresa estrangeira. O governo norte-americano alega que há relação entre a companhia chinesa e o governo chinês. A empresa Huawei nega este vínculo com o governo chinês. Nesta hipótese, é importante saber se o fundamento da segurança nacional é fator legítimo para operar proibição legislativa à atividade econômica de empresa privada. O núcleo do debate é saber sobre a ligação entre a empresa Huawei e o governo chinês.

A princípio, qualquer país, com fundamento em sua soberania, mediante lei, pode definir condições para proteger a segurança nacional. É possível o controle governamental de investimentos estrangeiros, sob a perspectiva da proteção da defesa nacional, nos termos da legislação. Não é possível que o presidente unilateralmente adote este tipo de sanção de proibição da comercialização com o governo contra empresa estrangeira sem o devido respaldo em lei. A lei deve fixar ao menos as condições para a autorização da decisão presidencial.

As infraestruturas de redes de telecomunicações e de internet representam infraestrutura crítica, devido os riscos permanentes de ataques cibernéticos. As redes de telecomunicações são o suporte para diversas indústrias e serviços, na área financeira, energia elétrica, telefonia, internet, transportes, entre outras. Contudo, é necessário o devido processo legal, a partir de fatos, evidências, provas e fundamentos legais, para impor a grave sanção de proibição com governo norte-americano a determinada companhia estrangeira. Se a medida for desproporcional e descabida, a companhia estrangeira pode impugnar a decisão legislativa e judicializar a questão da proibição legal.

Definição legal de requisitos mínimos de padrões de segurança dos equipamentos de telecomunicações.

Segunda questão, cada país pode impor, em sua legislação e por sua agência reguladora setorial, requisitos mínimos para a segurança de equipamentos de rede de telecomunicações. Mas, a fixação dos padrões de segurança não pode ser direcionada ao ponto de excluir apenas específicas companhias privadas, sob pena de se comprometer a competividade global e o livre comércio entre os países.

A medida mais razoável é a definição dos padrões de segurança dos equipamentos de redes de telecomunicações, para se evitar abusos governamentais contra as empresas privadas.

No Brasil, na agenda regulatória da Anatel de 2019-2020, está o tema dos padrões de segurança em equipamentos de redes de telecomunicações, a serem seguidos pelas empresas prestadoras de serviços de telecomunicações. Em consulta pública sobre o tema, a minuta do regulamento trata da obrigação das empresas de telecomunicações apresentarem a política de segurança cibernética, as medidas para assegurar a inviolabilidade do sigilo das comunicações, medidas de proteção à segurança das redes, entre outras.

Na perspectiva da soberania do Brasil, é fundamental a definição dos padrões de segurança nas redes de telecomunicações e internet, para garantir a segurança cibernética para os usuários dos serviços e telecomunicações e internet. Assim, é essencial medidas preventivas para evitar os riscos de espionagem às redes de comunicações que transportam as comunicações de milhões de brasileiros e de empresas brasileiras. O problema é que o Brasil não tem o domínio sobre estas tecnologias de comunicação. Daí sua dependência em comprar equipamentos de outros países. Assim, a importância para o estado brasileiro em definir em sua política pública cibernética, a sua independência tecnológica em relação aos outros países, seja Estados Unidos, seja China, ou terceiros países aliados ou não dois líderes mundiais. Pelas redes de telecomunicações e internet são transportados milhões de dados essenciais sobre a economia nacional e sobre os governos federais, estaduais e municipais. Também, milhões de dados das comunicações privadas de brasileiros são transportados por estas redes de internet e telecomunicações. Portanto, devem ser adotadas medidas para evitar os riscos de espionagem industrial e governamental por governos e/ou empresas estrangeiras.

A justa compensação à empresa privada na hipótese de proibição da comercialização de tecnologia para o governo

Terceira questão, cogita-se em se proibir por ato presidencial a comercialização de equipamentos da Huawei, se não aprovado o referido projeto de lei. Nesta hipótese, é cabível a justa compensação à empresa privada que tenha sofrido perdas e danos por ato governamental. Ora, se a empresa de tecnologia tem contratos já firmados com o governo e estes contratos são rompidos então surge naturalmente o direito à indenização. E, ainda, se ela realizou intensos investimentos em pesquisas e desenvolvimento de produtos há a expectativa legítima de comercialização seus produtos e retorno do lucro para seus investimentos.

Síntese.

Este caso da disputa entre o governo norte-americano e a empresa chinesa Huawei revela a complexidade do tema, na perspectiva da política nacional de controle de investimentos estrangeiros, diante da globalização dos mercados, e os reflexos no comércio internacional e na respectiva competição internacional. Também, mostra a intensa disputa entre os Estados Unidos e a China na liderança tecnológica no século 21. Outros países por pressão dos Estados Unidos, estão cancelamento contratos com a empresa Huawei e revendo os padrões de segurança dos equipamentos de telecomunicações. Este tipo de medida proibitiva pode ser objeto de revisão judicial perante a justiça dos Estados Unidos. E a repercussão global do tema da segurança cibernética, motivou o Brasil, através da Anatel, para realizar consulta pública sobre a proposta de regulamento sobre o tema, com a definição dos padrões de segurança nas redes de telecomunicações. Neste aspecto, é fundamental a consideração nas políticas públicas de segurança cibernética os direitos dos usuários à privacidade, à inviolabilidade de suas comunicações e o direito à proteção de seus dados pessoais, bem como o direito à segurança contra ataques cibernéticos. O tema ilustra bem o conflito entre o livre comércio mundial e a questão dos padrões de segurança cibernética, em redes de telecomunicações e internet.

Artigo publicado no portal jurídico Migalhas em 30/01/2019. Para acesso ao artigo no portal, clique aqui.

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FCC conclui leilão de frequências para serviços na tecnologia 5G

A Comissão Federal de Comunicações (FCC) dos Estados Unidos que regula o setor de telecomunicações concluiu as regras para o leilão de frequências para os serviços de comunicações, na tecnologia 5G, conforme declaração oficial.

O objetivo é flexibilizar o regime de exploração das licenças de frequências, para possibilitar os serviços de comunicação móvel na quinta geração, internet das coisas e outros serviços.

Assim, a faixa de frequências de 28 GHz é disponibilizada para os serviços de comunicação móvel.

Este leilão proporcionou receita aproximada de 700 milhões de dólares.

Em breve, a FCC, em declaração oficial de seu Presidente, lançará o leilão de frequências da faixa de 24 GHz.

Segundo a agência reguladora, a medida proporcionará maior conectividade aos consumidores norte-americanos, devido à otimização tecnológica que possibilitou a eficiência do uso dos canais de frequências do espectro. E a liberação de mais faixas de frequências à utilização comercial pelo mercado garantirá a liderança dos Estados Unidos na futura geração de serviços de conectividade 5G.

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Impacto no Brasil da guerra comercial entre EUA e China no setor de tecnologia, internet e telecomunicações

É o momento de boas práticas de negociação internacional, com o melhor da diplomacia brasileira, e a sabedoria na escolha do caminho do meio; navegando-se entre correntes econômicas, políticas e culturais diferentes. Para além da questão liderança econômica e comercial, está em jogo o futuro das comunicações do planeta: as infraestruturas globais de telecomunicações e internet.

A guerra comercial entre os Estados Unidos e a China tem forte impacto nos mercados de fornecimento de equipamentos de rede de telecomunicações e tecnologia e informação e de comunicação. A disputa afeta a cadeia global de suprimento de tecnologia e telecom do mundo. No Brasil, a Huwaei tem forte presença no setor de infraestrutura de rede de telecomunicações, razão para se mostrar as possíveis consequências da disputa comercial entre os líderes mundiais aqui no país. Em questão, a comercialização de equipamentos de redes de telecomunicações (como chips, servidores, roteadores, terminais, etc) pela empresa chinesa.

Foram feitas sérias acusações por autoridades dos Estados Unidos em relação às práticas por empresas chinesas de espionagem de dados, furto de propriedade intelectual, venda ilegal de produtos para o Irã, violando sanções econômicas contra este país, entre outras. Como consequência, os Estados Unidos resolveu proibir compras governamentais dos produtos da Huawei.

Segundo a inteligência norte-americana os equipamentos da empresa Huawei poderiam conter sistemas de espionagem de dados (por backdoords). Assim, foi utilizada a lei de Autorização de Defesa Nacional de 2018 (National Defense Authorization Act para o ano fiscal de 2019), sob o argumento de riscos à segurança nacional. Esta lei tem diretrizes para o governo americano em relação às medidas a serem adotadas em diversos setores em relação à China. Há regras quanto às compras governamentais dos Estados Unidos, bem como das medidas de segurança em relação aos produtos tecnológicos, diante dos riscos de ataques cibernéticos. Alega-se, também, a ligação da empresa com o governo chinês. A empresa chinesa nega todas as acusações, e afirma que não há provas das acusações pelas autoridades norte-americanas.

A Huawei é a empresa líder em projeto de semicondutores da China (é uma das maiores compradoras de componentes de tecnologia e semicondutores); é uma das maiores empresas deste país, com receitas anuais de, aproximadamente, US$ 92,5 bilhões de dólares.

A empresa de tecnologia tem projetos importantes para assumir a liderança mundial no mercado de inteligência artificial. O impasse ocorre em momento crucial para a realização de investimentos na construção da rede 5G em diversos países, básica em diversos setores econômicos, dentre entres, o mercado global de transporte.

Outra empresa chinesa alvo de sanções pelo governo norte-americano é a ZTE.

A mídia internacional recentemente noticiou a prisão da executiva da Huwaei, filha de um dos fundadores da empresa, por autoridades do Canadá, sob a alegação de violação ao boicote norte-americano ao Irã.

A prisão da executiva da companhia é, evidentemente, um precedente de elevados riscos para a comunidade empresarial internacional, inclusive riscos de retaliação pelas autoridades chinesas.

Segundo opinião de Jeffrey Sachs, em seu artigo Guerra a Huawei, publicado no Valor, na edição de 13/12/18: “Os EUA tentam atingir a Huawei principalmente devido ao sucesso da empresa na comercialização mundial de tecnologias 5G de ponta”. Segundo ainda a opinão dele: “As motivações dos EUA nessa guerra econômica são, em parte, comerciais – proteger e favorecer empresas americanas atrasadas, em parte, geopolíticas. Nada têm a ver, certamente, com a defesa do Estado de Direito internacional”.

Diversos países estão suspendendo contratos com a empresa Huwei quanto ao fornecimento de equipamentos de rede de telecomunicações.

Segundo notícias, Austrália proibiu a empresa de construir redes 5G. Nova Zelândia também teria adotado este caminho.

O Canadá está verificando os padrões de segurança adotados nos produtos da empresa.

No Reino Unido, a empresa britânica de telecomunicações está retirando certos aparelhos da empresa do sistema central de operações móveis nas tecnologias 3G e 4G. No núcleo central do sistema de telecomunicações não seria adotado os produtos da Huawei.

O Japão expediu recomendação para os setores público e privado quanto aos padrões de segurança dos equipamentos de telecomunicações utilizados em infraestruturas de diversos setores.

Em debate, a liderança política e econômica mundial na disputa EUA v. China. Esta disputa pela liderança tem sérios reflexos no Brasil, em diversos mercados, desde infraestruturas de rede de telecomunicações e o futuro da tecnologia 5G, nos serviços de internet móvel.

O que o Brasil pode aprender com este conflito?

Primeiro, a necessidade de se estabelecer regras claras e precisas quanto aos padrões de segurança de equipamentos de telecomunicações.

Segundo, a aliança do Brasil com apenas com um dos países em disputa pode provocar consequências políticas e econômicas. A aproximação apenas em relação a um dos líderes pode comprometer a relação econômica e diplomática com o outro.

Terceiro, o Brasil não domina a tecnologia no setor de telecomunicações, ao contrário é obrigado a comprar esta tecnologia no mercado global; vendemos grãos para a China, mas compramos equipamentos de telecomunicações da China (smartphone são produzidos lá). O Brasil é o quarto maior consumidor de smartphones do mundo.

Quarto, o Brasil está dependente dos Estados Unidos em matéria de fluxo das comunicações. A maior parte das comunicações brasileiras atravessam pelos Estados Unidos, por satélites e cabos submarinos. Além disto, o sistema de comunicações por satélite, baseado no GPS, é de domínio dos Estados Unidos.

Quinto, sem dúvida alguma, o setor de telecomunicações é de interesse estratégico nacional. Mas, o motivo dos padrões de segurança em equipamentos, roteadores, servidores e terminais não podem servir como pretexto para impedir a competição internacional. Aqui, é preciso distinguir entre os equipamentos adotados pelo setor público (o que possivelmente justificaria medidas de restrições aos fornecedores por razões de segurança nacional ), em relação àqueles adotados pelo setor privado (daí apenas razões de segurança cibernética). A princípio, a questão da segurança na proteção de dados é comum tanto ao setor governamental, quanto ao setor privado. Mas, existem diferenças significativas em relação a prioridades de cada um.

Sexto, o país não está preparado para o cenário futuro das infraestruturas de redes de telecomunicações, na tecnologia 5G. O Brasil ainda está por definir o modelo regulatório do 5G, com o padrão de frequências e padrões de segurança dos equipamentos, servidores e terminais.

A guerra comercial no setor de tecnologia, inclusive com agressões aos princípios elementares do direito internacional, bem como de negação das boas práticas de negociação internacional, mediadas pela diplomacia. Sanções unilaterais dos EUA à empresa chinesa (proibir que empresa estrangeira comercialize com outros países), não deveriam ser fiscalizadas pelo próprio país que emitiu a proibição, mas sim pela comunidade internacional, à luz de seus tratados definidos no Conselho de Segurança da ONU. Se perigoso prevalecer este precedente, a China também ou qualquer outro país pode impor às companhias americanas com quem negociar ou deixar de negociar, como diz Jeffrey Sachs.

A decisão do Brasil no sentido de apenas priorizar um dos parceiros comerciais, um dos líderes no setor de tecnologia e telecomunicações, tem consequências no mercado interno para empresas e consumidores. É o momento de boas práticas de negociação internacional, com o melhor da diplomacia brasileira, e a sabedoria na escolha do caminho do meio; navegando-se entre correntes econômicas, políticas e culturais diferentes. Para além da questão liderança econômica e comercial, está em jogo o futuro das comunicações do planeta: as infraestruturas globais de telecomunicações e internet.

Artigo publicado no portal jurídico Migalhas em 20/12/2018. Para acesso ao artigo no portal, clique aqui.

 

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Brasil, eleições 2018: a análise dos números de votos do vencedor, do perdedor e brancos, nulos e abstenções

O resultado das urnas das eleições de 2018 mostra que o país está dividido. Há diferenças de opiniões políticas. Mas, o mais preocupante é o discurso dos futuros governantes quanto às medidas de segurança, a serem adotadas, para supostamente combater a violência, em nosso país.

Os números de votos nas eleições para o cargo de presidente da república são significativos. Somos 147 milhões de eleitores.

Do total de votos válidos (104.838.753), o primeiro colocado conquistou 57,797.848 milhões de votos (55,13%).

O segundo colocado obteve 47 milhões (44,87%) de votos.

Mas, 1/3 (aproximadamente, um terço) do total de votantes (42,1 milhões de eleitores) não escolheu nem Jair Messias Bolsonaro (PSL) nem Fernando Haddad (PT) para presidente.

Diferentemente, optaram pela abstenção: 31.371.704 (21,30%). Optaram pelo voto branco: 2.486.593 (2,14%). Optaram por anular o voto: 8.608.105 (7,43%).

Ora, esta massa de votos brancos, nulos e abstenções é significativa. Uma das conclusões possíveis desta manifestação política nas urnas é que as duas opções de candidatos presidenciais ofertadas aos eleitores foram rejeitadas.

Portanto, se somarmos o total de votos do candidato derrotado (47 milhões), mais o número de votos brancos, nulos e abstenções (42,1) milhões de eleitores, temos o universo de 89 (milhões) de votos que não fizeram a sua escolha pelo candidato vencedor.

Também, é notório o fato de que parcela significativa dos votos conferidos ao vencedor foi motivada pela rejeição à outra candidatura.

Esse é o dilema da democracia representativa. Forma-se novo governo, com maioria relativa de votos válidos. Mas, o presidente da república, na condição de chefe de Estado e de Governo, tem que governar para todos os brasileiros e brasileiras. Afinal, “salus populi suprema lex”: o bem-estar do povo é a lei suprema”.1

O povo brasileiro encontra-se sob a necessidade e a esperança. Necessidade de sobreviver, mediante trabalho e renda. Esperança de ter um futuro melhor para si e para seu país. Em cada eleição, renova-se o clamor por soluções de governo para a necessidade do povo brasileiro, a esperança por um futuro melhor do que o presente e o passado.

Segundo a mitologia clássica dos gregos, a necessidade é a divindade Ananche e a esperança é Elpis. Moira, o destino, é a filha da necessidade. As moiras são as três irmãs que determinavam o destino dos deuses e da humanidade. Elas fazem girar a roda da vida, a roda fortuna (do destino) dos homens e mulheres.

Uma moira fabrica o fio da vida (Cloto). Outra tece o fio da vida (Láquesis), decidindo a boa ou má sorte de todos: o topo ou o fundo. E a terceira corta o fio da vida (Átropos). São as fiandeiras que manipulam os fios da vida, os nós, as teias e as tramas.

Os gregos designavam a Fatalidade como moira ou moirai, que dosam e regram a distribuição de bem e de mal. A jurisdição das moiras é a definidora da sorte e/ou azar da humanidade, dos homens e mulheres; elas traçam o destino da humanidade, para o bem e/ou para o mal.2Elas se identificam à vontade de Deus (Zeus), fazendo o serviço da justiça divina.

Na história da humanidade, o desafio é unir a necessidade e a esperança dos povos.

Mas, na dinâmica deste jogo universal, o êxito desta união é inseparável da possibilidade do engano e ilusão.3 E a esperança, aprisionada, na caixa de Pandora, não espera ser realizada no mundo.

A salvação, paradoxalmente, não está na esperança!4 A caixa de Pandora foi aberta, desencadeando todo o tipo de forças indesejáveis na humanidade! Apenas a esperança continuou aprisionada dentro da caixa de Pandora! Paradoxalmente, a salvação não está em Deus e/ou seus representantes, mas na ação prática, a serviço do bem estar do povo.

Dentro deste contexto, a política tem este poder universal: despertar as forças de criação do bem, de conservação ou de destruição!

Ora, o pêndulo político oscila entre os regimes democráticos, autoritários, populistas e demagógicos, e tirânicos! Daí o desafio quanto à responsabilidade política quanto à condução de uma nação do tamanho do Brasil, com o estrito cumprimento da Constituição do Brasil, bem como das regras do jogo democrático. A maturidade política requer a compreensão da dinâmica do jogo democrático, bem como do papel de suas instituições, como a presidência da república, o Congresso Nacional, o Judiciário e a imprensa livre.

Aqui, vale lembrar as palavras de Thomas Jefferson (1743-1826), terceiro presidente dos Estados Unidos, ao tratar da luta entre opiniões políticas diferentes:

“Todos, também, terão em mente este sagrado princípio que, conquanto a vontade da maioria prevalecer em todos os casos, essa vontade, para ser legítima, tem que ser razoável: que a minoria possui iguais direitos, que leis iguais devem proteger e que violá-los seria opressão. Unamo-nos, pois, concidadãos, como um só coração e um só espírito, restituamos às relações sociais essa harmonia e afeição sem as quais a liberdade e a própria vida teriam triste feição”. E concluiu Jefferson que a luta pela liberdade religiosa, que causou inúmeras mortes, dividiu opiniões quanto às medidas de segurança.5

Enfim, o resultado das urnas das eleições de 2018 mostra que o país está dividido. Há diferenças de opiniões políticas. Mas, o mais preocupante é o discurso dos futuros governantes quanto às medidas de segurança, a serem adotadas, para supostamente combater a violência, em nosso país. Um discurso político com risco potencial sobre o futuro dos direitos humanos, frutos conquistados na Constituição de 1988, após o regime da ditadura miliar.

Medidas de retórica e/ou medidas de encenação política não são suficientes para resolver graves problemas nacionais. A impopularidade atual dos direitos humanos pode ser o grave sintoma do que virá daqui para a frente.

__________

1 Locke, John. Segundo tratado sobre o governo civil. São Paulo: Edipro, 2014, p. 124.

2 Hesíodo. Teogonia dos deuses. Estudo e tradução por Jaa Torrano, São Paulo: Iluminuras, 1992 p. 80-81.

3 Ver: Agamben. Giorgio. A Aventura, Belo Horizonte, Autêntica Editora, 2018, p.23

4 Obra citada, p. 64.

5 Villa, Marco Antonio. A história em discursos. 50 discursos que mudaram o Brasil e o mundo. São Paulo: Planeta, 2018, p. 70-71.

Artigo publicado no portal jurídico Migalhas em 07/11/2018. Para acesso ao artigo no portal, clique aqui.

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Nuvens sombrias de autoritarismo sobre o Estado Democrático de Direito: a defesa das regras do jogo democrático

Vamos saber se, em 2019, vamos rumar para frente ou retornar para trás, a volta ao passado autoritário, populista e de atraso nacional, independentemente de quem vença as eleições deste ano.

“A palavra encarna o ato livre e liberdade retorna à consciência ao refletir-se na palavra” – Octavio Paz.1

Brasil, eleições 2018. Há mostras de que a disputa do poder político está espalhando nuvens sombrias de autoritarismo sobre o futuro da democracia no país.

O cenário é de polarização política, o qual desperta forças de atração e repulsão. Os opostos se atraem e se repelem mutuamente. Ora, a narrativa dramática ao público, mediada pela imprensa, é utilizada nas eleições. A atenção do público (dos eleitores) é direcionada entre dois pólos: o protagonista e o antagonista. Esta é a dinâmica de guerra entre as narrativas, das versões dos participantes do cenário político. Ao final da disputa eleitoral, de um lado, a vitória, de outro lado, a derrota.

Não há festa a ser comemorada, após os resultados das eleições, independentemente do resultado das urnas. No Brasil, o clima é e será de mais de luto e tristeza, seja quem for o vencedor. Acredito que nenhuma das opções políticas, apresentadas aos brasileiros e às brasileiras, está à altura dos desafios do país, seja para os próximos 4 (quatro) anos, seja para futuro. A alma brasileira sofre, povo brasileiro sofre! A salvação nacional está no diálogo construtivo, mediante ação política, mediante consciência crítica em relação a todos os lados, para além de vítimas, vilões e/ou heróis e/ou profetas, salvadores da pátria, que utilizam as trombetas da fé.

A polarização de grupos cria o ambiente para o efeito cascata no espalhamento de boatos e notícias falsas em redes sociais e aplicativos de comunicações.2

Recentemente, foi noticiado o problema da disseminação de mensagens falsas pelo WhatsApp, caso sob investigação no período eleitoral no TSE. Em resposta, o WhatsApp notificou as empresas responsáveis pela divulgação da propaganda eleitoral em massa, supostamente financiadas por empresas privadas e/ou dirigentes empresariais. Mas, a empresa informou que não pretende limitar o número nos grupos.

Sinais de alerta quanto à presença de discurso autoritário e antidemocrático: riscos às regras do jogo democrático.

Há sintomas graves de fragilização da democracia na eleição presidencial 2018, com reflexos negativos sobre o futuro do país e de suas instituições democráticas.

Há venenos autoritários na atmosfera brasileira, há nuvens sombrias antidemocráticas que devem ser repelidas! O suposto antídoto para curar as doenças deixadas por governos anteriores pode se tornar o maior veneno à democracia!

No presente texto, quero abordar diversos aspectos relacionados à fragilização da democracia em nosso país.

Primeiro aspecto, a ausência de debates eleitorais. A ausência da dialética no processo eleitoral, com a exposição de razões de planos de governo ao eleitorado. A prevalência do tom emocional, em detrimento da razão iluminista.

Segundo, a simplificação dos discursos eleitorais. A teatralização do jogo eleitoral. A exploração de imagens, com vistas ao espetáculo na propaganda eleitoral. O jogo de cena, ao invés do argumento. Vivemos em cenário de volatilidade, incerteza, complexidade, ambiguidade, na terminologia Vuca, adotada pelos militares norte-americanos. Mas, sem ação política pragmática, com objetividade, racionalidade e pragmatismo, não há remédio para a cura dos males nacionais! O jogo político apenas em torno de imagens da sociedade-espetáculo.

Há priorização do discurso em torno da segurança. Mas, este discurso esconde a tragédia maior do Brasil: a educação, desafios das próximas gerações, por falta de ensino de qualidade, desafios quanto à empregabilidade.

Ora, o ideal iluminista já pregava educar para liberdade, liberdade para educar. A educação pública a serviço da emancipação do indivíduo. Por detrás de todo o discurso sobre a educação brasileira, evidentemente o jogo econômico da economia de mercado.

Terceiro, aumento da violência política, seja em discursos, seja em atos/atentados. A exploração do medo, da raiva e do ódio dos eleitores, diante da grave crise econômica e política. Atualmente, o medo proporciona a busca em noções de família, pátria, Deus e religião. Não há perguntas adequadas, nem respostas a problemas complexos da modernidade e da globalização econômica. Há a apenas a exploração de instinto primário de sobrevivência como o medo, a raiva e o ódio. Com o medo, não há paz, não há liberdade. Ignora-se a complexidade dos problemas sistêmicos da modernidade e da globalização econômica.

Para a democracia não é saudável discursos de apóstolos ou de apologia à repressão, à violência, somente com mais violência, de discursos contra direitos individuais. O discurso do ódio desperta os anjos maus da natureza humana, como disseram Clóvis Rossi e Luís Francisco Carvalho Filho na sua coluna da Folha de São Paulo. Aqui, lembremos sempre a banalização do mal, nas lições de Hannah Arendt.

Atentados e mortes causadas por brigas políticas. Aqui, o luto, a homenagem póstuma ao compositor, percussionista, artesão, educador, mestre capoeirista negro, e baiano Moa do Katendê (1954-2018), idoso assassinado por agressor covarde que discordou de suas ideias políticas.

Precisamos aprender e praticar a comunicação não-violenta, a busca do diálogo democrático, como uma saída possível dentro do quadro constitucional. A raiz da democracia depende da dignidade da política, do espaço da interação e da palavra entre os cidadãos. A comunicação, através do diálogo, é a raiz da democracia. Com violência não há comunicação, não há diálogo. A comunicação sem fronteiras, de tolerância às diferenças e as singularidades das individualidades. A palavra e ação democrática a serviço do país!

Conta-se a história de que o senador americano McCarthy buscava uma causa para defender em sua plataforma política. Um padre ofereceu a ele, a causa do combate ao comunismo. Então, ele elegeu o comunismo como mal supremo que valeria a pena sacrificar a objetividade e moralidade. Assim, ele inaugurou a caça aos comunistas nos Estados Unidos, na década de 60, como bandeira de luta que causou a perseguição política contra políticos, roteiristas de cinema, artistas, etc.3 Este tipo de ação política não tem mais cabimento no século XXI!

Quarto, a intenção de voto é definida não por convicção pessoal, mas por rejeição ao outro candidato. O sentimento de rejeição é que define o voto nestas eleições. Mas, infelizmente, a personalização da política não é por si só suficiente para resolver os problemas.

Quinto, a ausência de programas de governo qualificados, com respostas práticas aos problemas nacionais econômicos e sociais.

O Fórum Econômico Mundial divulgou o ranking da competividade mundial. O Brasil ocupa o 72º lugar no ranking mundial. O relatório aponta diversos problemas da falta de competividade global, com a análise de fatores, tais como: ambiente de negócios e inovação, mercado de trabalho e o capital social, governança corporativa, a baixa performance do setor público, direitos de propriedade e segurança jurídica, falta de colaboração entre setor público e privado, etc.4

Sexto, há na política, o ataque sistemático às instituições democráticas, como é o caso do Supremo Tribunal Federal. Infelizmente, vemos o surgimento no Brasil do populismo autoritário, marcado pelo autoritarismo, tribalismo, demonização, pensamento de soma zero.5 E a gravidade do perigo à democracia é existirem líderes, aparentemente, associados à extrema direita que apoiam ditadura, são contra os direitos das minorias, fazem discurso contrário aos direitos humanos, fazem a apologia aos torturadores, não negam a violência, fazem ataques às instituições contra-majoritárias, como o Supremo Tribunal Federal.

Há ataques ao Estado Democrático de Direito. Há ataques ao Supremo Tribunal Federal. Estes ataques antidemocráticos devem ser fortemente respondidos por todas as instituições democráticas e democratas do país. Alguns tentam lançar sementes baseadas em estado de exceção na opinião pública. Estado de exceção é a forma de negação do Estado Democrático de Direito! Quebra das regras do jogo democrático é atentado ao Estado Democrático de Direito!

Sétimo, a proliferação de mentiras no jogo eleitoral, com o surgimento das fake news, espalhadas pelo Facebook e WhatsApp. No futuro próximo, é importante aprofundar o tema da responsabilidade das plataformas sociais perante a legislação eleitoral, em especial para definir os limites ao compartilhamento de notícias falsas, em grupos sociais do WhatsApp. Ou seja, estabelecer os limites às campanhas de desinformação da opinião pública, mediante falsidades, difamações, calúnias e injúrias.

Oitavo, a exploração do sentimento religioso na campanha eleitoral. Há o ressurgimento do arcaico na eleição. Subliminarmente, em frases bíblicas invocadas e dirigidas ao público, há o anúncio de um tempo messiânico. A utilização de símbolos religiosos no processo eleitoral.

A questão que surge deste tipo de manipulação do sentimento religioso não diferencia os mandamentos de Deus, em relação à lei dos homens e a Constituição. De separação entre a atividade religiosa e o Estado laico. Em casos extremos, há o surgimento de Estados fundamentalistas. É o movimento denominado de teoconservadorismo.

Para alguns, é aplicável as lições do apóstolo Paulo: “não faço o que bem que quero, mas o qual que não quero, este faço”, Romanos, 7-19.6 Ora, este tipo de sentimento é capaz de causar a banalização do mal, contrariamente aos ensinamentos de Cristo. O símbolo da Cruz é frequentemente utilizado no contexto político.

Mas, a história brasileira mostra que os maiores crucificados foram os índios brasileiros, inclusive foram vítimas de genocídio. Veja o caso dos jesuítas que buscam catequizar os índios, eles viam os índios como sem alma. Depois, a população negra foi vítima da escravidão, a cruz que carregaram. Também, o fenômeno da violência do machismo contra as mulheres.

Nono, o aumento da presença militar na política, como sintoma da fraqueza da parlamentarização da vida política. Há o risco de termos um governo sob tutela militar. É fundamental distinguir o governo, em relação ao papel das forças armadas dentro do Estado Democrático de Direito.

Direito natural de resistência popular se houver usurpação do poder: a lição dos constitucionalistas e federalistas norte-americanos. O direito natural de utilização da força para repelir a opressão.

Como período histórico tem seus desafios. Em épocas de crise, surgem ataques às instituições democráticas.

A propósito, do ataque às instituições democráticas, cabe invocar as preciosas lições de Alexandre Hamilton em sua obra os Federalistas, tendo como co-autores James Madison e John Hay:

“Se os representantes do povo traírem seus constituintes, então não haverá outro recurso senão a aplicação daquele direito natural de autodefesa que é inerente a todas as formas positivas de governo e que, contra as usurpações dos governos nacionais, pode ser exercido com perspectivas de êxito infinitamente maiores do que contra os governantes de um só Estado. No caso destes, se as pessoas investidas do poder supremo se tornam usurpadoras, as diferentes partes, subdivisões ou municípios que o integram, não tendo governo próprio, ficam impossibilitados de tomar medidas de defesa. Os cidadãos devem acorrer desordenadamente para pegar em armas, sem coordenação, sem plano, sem outros recursos que não sua coragem e seu desespero.”7

E, no contexto de usurpação do poder e o conflito entre governo central e governo estadual, continua o autor:

“O povo, fazendo pender um dos pratos da balança indicará infalivelmente quem deve preponderar. Se seus direitos forem violados por qualquer uma das partes, o povo deve usar a outra como instrumento de correção. Como seria sensato se todos se unissem a fim de preservar para si mesmos um benefício cujo preço é incalculável”.8

A lição histórica é essa. Diante da usurpação do poder ou de golpe às instituições democráticas surge legitimamente o direito natural à resistência diante da opressão.

Cada cidadão está legitimado ao direito de utilizar a força para repelir qualquer forma de tirania e/ou opressão contra si e/ou sua família ou contra as instituições democráticas. E, prossegue o autor:

“Os obstáculos à usurpação e as possibilidades de resistência aumentam com a extensão do Estado, desde que os cidadãos estejam cônscios de seus direitos e dispostos a defende-los. A força natural do povo, proporcionalmente à força artificial do governo, é maior em uma grande comunidade do que em uma pequena e, naturalmente, mais capaz para enfrentar as tentativas do governo no sentido de estabelecer uma ditadura”.9

Ora, os movimentos políticos de conquista do governo por partidos personalizados pode causar danos permanentes às instituições democráticas. E deveria ser o contrário, com maior poder maior deve ser a responsabilidade política dos homens públicos.

A ausência do centro progressista como o fiel da balança das forças políticas antagônicas

Há polarização entre forças de extrema direita e esquerda no cenário eleitoral. Para calibrar a disputa política, está faltando a figura do centro, como afirmam os analistas políticos. A eleição de 2018 é marcada historicamente pelo esvaziamento do centro do espectro político, algo ruim para a democracia brasileira.

Segundo Madeleine Albright:

“O centro vital, que várias vezes salvou o país de divisões sobre tantos temas polêmicos, tornou-se um lugar solitário – e isso, historicamente, é augúrio de problemas mais graves adiante”.10

E, segundo ela: “O país precisa de um compromisso claro da parte de líderes responsáveis de ambos os partidos com a abordagem conjunta dos problemas nacionais, juntamente com as linhas gerais de um plano de ação para tal”.11

Esta lição é perfeitamente aplicável ao Brasil, a necessidade de compromisso do diálogo democrático, para o resgate do país diante da crise econômica e política.

O perigo de personalidades autoritárias e populistas para a democracia.

Diversos autores apresentam o perfil de líderes autoritários que acabam por negar a democracia.

Alexandre Hamilton: “A maior parte dos homens que destruíram as liberdades de repúblicas começou suas carreiras cortejando servilmente o povo, demagogos no início e tiranos no fim”.12

Primo Levi, escritor italiano sobrevivente do Holocausto, afirmou que cada época tem seu fascismo:

“Não só através do terror da intimação policial, mas pela negação e distorção das informações, pelo enfraquecimento do sistema educacional e pela disseminação, de várias formas sutis, da nostalgia por um mundo onde reinava a ordem”.13

Joseph Conrad, em seu livro Coração das trevas, descreve o processo de racionalização da violência colonial até suas últimas consequências. Exclamava o Coronel Kurtz: “Exterminem todos os brutos!”.

Este tipo psicológico inspirou o filme sobre Apocalipse Now sobre Guerra do Vietnã. O coronel Kurtz adorava o cheiro de napalm pelas manhãs, nos bombardeiros às aldeias dos vietcongues. Enfim, há quem adore o cheiro de pólvora; o cano das armas, o sangue nas ruas, a experiência sangrenta. Há quem odeie a democracia, há quem odeie as diferenças individuais, a expressão da individualidade. Há quem adore o pertencimento ao grupo econômico, político, social e religioso, e que gosta de renunciar à sua liberdade. Apenas fica alerta que o tiro pode sair pela culatra!

Mas, conforme lições históricas de Hannah Arendt, aquele que se vale do cano da arma para impor sua vontade perde sua autoridade. Não há poder legítimo com abuso da violência estatal.14

Vale lembrar, para Mao Tsé-tung, o líder tirânico: “o poder brota do cano de uma arma”.15

Étienne da la Boétie, em sua obra Discurso da Servidão Voluntária, descreve o valor da liberdade diante da tirania. A partir de suas lições, um povo que conquistou sua liberdade é capaz de derrubar um tirano, dificilmente renúncia à sua liberdade ou consente em seu sofrimento.

Também, neste momento histórico da travessia do Brasil, vale a pena relembrar o registro histórico de Cony, em 29/5/64: “Está em perigo o pouco de democracia que nos resta. Depois será o reinado da força. Mas em qualquer circunstância e de qualquer forma por um imperativo histórico, o povo saberá lutar pela reconquista da liberdade perdida”.16

As táticas de fatiamento de regra a regra da democracia dos movimentos antidemocráticos: a urgente necessidade de percepção da gravidade.

Como alguém já disse, no movimento autoritário a democracia vai sendo fatiada aos poucos, regra a regra. Há um discurso autoritário aqui e ali, há mentiras espalhadas maciçamente, através de redes sociais e aplicativos de internet. Há pesquisas de opinião sobre o sentimento antidemocrático de parcela significativa do povo brasileiro. Há autoridades públicas, como juízes, promotores, delegados, parlamentares que manifestam opiniões autoritárias.

O movimento antidemocrático vai crescendo de forma escancarada. E as instituições democráticas vão sendo golpeadas uma a uma, os mandatos parlamentares, os partidos políticos, o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal, etc. As garantias individuais de proteção à liberdade também vão sendo sacrificadas. Quando se acorda a democracia já está morta, pois não há mais sentimento democrático nas mentes e corações dos brasileiros, sequer há mais garantias individuais!

Sentido vivo da democracia.

Aqui, é importante fixar o sentido vivo de democracia, em 1918, o Presidente da Tchecoslováquia Tomas Masaryk , disse:

“Democracia não é só um modelo de Estado, não é apenas algo que está expresso numa Constituição; democracia é uma visão da vida, exige crença nos seres humanos, na humanidade … Já disse que a democracia é uma discussão. Mas a verdadeira discussão só é possível se as pessoas confiarem umas nas outras e esforçarem-se para tentar encontrar a verdade”.17

A bipolaridade política não é saudável para o Brasil.

A bipolaridade não é saudável para o país. Os extremos políticos não são bons para o país.

Afinal como diria Bobbio, in medio estat virtus (no meio está a virtude).18

Fragilização da parlamentarização é ruim para a democracia.

A fragilização da parlamentarização não é boa para a democracia. Movimentos de judicialização da política têm consequências. Precisamos analisar os efeitos das decisões judiciais no exercício da jurisdição civil e penal. O enfraquecimento do parlamento brasileiro é ruim para a democracia!

Das consequências ruins para a democracia do não seguimento das regras do jogo constitucional.

Não é bom para a democracia quando juízes atuam na cena do jogo político.

Não é bom para a democracia quando as instituições não seguem as regras do jogo democrático.

Não é bom para a democracia quando a imprensa perde o equilíbrio na cobertura jornalística.

Não é bom para a democracia o enfraquecimento dos partidos políticos.

Não é bom para a democracia quando há a relativização dos direitos humanos e das garantias à liberdade e do devido processo legal.

Não é bom para a democracia quando a justiça se transforma em vingança e/ou perseguição política.

Não é bom para a democracia a falta de autocontenção judicial, em respeito ao princípio da harmonia e colaboração entre poderes.

2019, Estado de Direito ou Estado de Extrema Direita?

Que, em 2019 e nos próximos anos, possa prevalecer o Estado Democrático de Direito. Que não haja metamorfose no Brasil para o Estado de Extrema Direita. Sempre para lembrar: a extrema direita é símbolo da cultura da violência, negação da ditadura, apologia da tortura, da negação dos partidos políticos, dos direitos políticos, da negação dos direitos humanos, de negação dos direitos das minorais, do ódio à democracia, do racismo, xenofobismo, violência contra mulheres, da censura à liberdade de expressão, de repressão às liberdades fundamentais, etc. Que possamos aprender com erros históricos, para não repetí-los, sejam os erros de esquerda ou de direita! Autocrítica de ambos os lados é bem-vinda!

Vale a pena sempre lembrar Norberto Bobbio: “a violência talvez tenha deixado definitivamente de ser a parteira da história e está se tornando cada vez mais o seu coveiro”.19

Brasil merece melhores líderes políticos, mais democráticos.

O povo brasileiro está dividido, por responsabilidade de seus líderes políticos e dos respectivos partidos políticos. A manipulação da opinião pública, via fake news não é saudável para a democracia. Mas, não há outro caminho a não ser dentro da democracia. É preciso unir mentes e corações em favor de causas comuns aos brasileiros, em direção à recuperação da economia e do sistema político.

O Brasil merece melhores opções políticas, além daquelas que estão na atual cena do jogo político, em 2018.

A grandeza do país requer melhores líderes políticos. O povo brasileiro merece mais respeito às suas diferentes culturas, aos seus direitos e garantias individuais e sociais, e às suas instituições democráticas.

Vamos saber, em breve, se o antídoto proposto que sairá vencedor nas urnas não representará o seu efeito oposto, o veneno à democracia. Se a dose não se transformará em overdose!

Se a limpeza, purificação e higienização proposta e adotada por alguns movimentos não arrancou a pele dos brasileiros e/ou de sua economia e política, inclusive colocou em risco a própria democracia! Empresas morreram, brasileiros morreram, brasileiros e brasileiras estão doentes e preocupados com o futuro do país.

Que o projeto de aventura política de alguns não represente a tragédia para o Brasil, dos rumos democráticos, definidos legitimamente na Constituição de 1988.

O Brasil de 2018 não é o de 1964. Mas, infelizmente ainda em 2018, há alguns fantasmas de regime autoritário em nosso país.

Aqui, vale lembrar as palavras sábias de Norberto Bobbio: “o extremismo não é compatível com o governo de uma democracia”.20

Que a consciência das forças democráticas seja superior ao movimento das antidemocráticas, representantes de espectros autoritários ainda presentes. Que o Brasil avance em sua educação política democrática!

Vamos saber se, em 2019, vamos rumar para frente ou retornar para trás, a volta ao passado autoritário, populista e de atraso nacional, independentemente de quem vença as eleições deste ano.

A alma brasileira sofre, o povo brasileiro sofre!

__________

1 Lafer: Celso, Hannah Arendt: pensamento, persuasão e poder. Rio de Janeiro: São Paulo: Paz e Terra, 2018, p. 22.

2 Sobre o tema, Sunstein. Cass. A verdade sobre os boatos. Como se espalham e por que acreditamos neles. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

3 Albright, Madeleine. Fascismo, um alerta. p. 99.

4 Ver: Fórum Econômico Mundial: www.weforum.org.

5 Para compreensão do populismo autoritário, ver: Pinker, Steven. O novo iluminismo, p. 394.

6 Agamben. Giorgio. O tempo que resta. Um comentário à Carta dos Romanos. Belo Horizonte, Autêntica Editora, 2016.

7 Hamilton, Alexandre. Madison, James e Jay, John. O Federalista, Campinas, Russel Editores, 2009, p. 187.

8 Obra citada, p. 187.

9 Obra citada, p. 187.

10 Obra citada, p.

11 Albright, Madeleine, p. 237.

12 O Federalista. p.

13 Albright, Madeleine, Fascismo. Um alerta. São Paulo: Planeta, 2018, p. 227.

14 Ver: Sobre a Violência, Civilização brasileira. Rio de Janeiro.

15 Obra citada, p. 137.

16 Cony, Carlos Heitor. O ato e o fato. O som e a fúria do que se viu no Golpe de 1964. São Paulo: Nova Fronteira, 2014, p. 192.

17 Albright, Madeleine, Obra citada, p. 123.

18 Bobbio, Norberto. O tempo da memória. Rio de Janeiro, Campus, 1997, p. 146.

19 O Problema da Guerra e as vias da paz. São Paulo: Edit. UNESP, p. 2003, p. 48.

20 Ver: Contra os novos despotismos. Escritos sobre o berlusconismo, São Paulo: Unesp, Instituto Norberto Bobbio, 2016.

Artigo publicado no portal jurídico Migalhas em 26/10/2018, para acesso ao artigo no portal, clique aqui.

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The Internet of Things: the Public Consultation of Anatel on the Regulation of IoT Applications and Machine to Machine Communication

The Internet of Things, known as IoT, is a market trend in internet applications.

IoT is the infrastructure of physical or virtual connection between objects, mediated by devices, based on information and communication technologies. This network allows the collection, processing, treatment, and sharing of data referent to physical and/or virtual objects.1

This article presents the challenges for regulating this matter in Brazil, stressing the public consultation held by Anatel in September 2018 on IoT-related issues.

Such public consultation dealt with issues related to the rating of IoT applications, licensing and award rules, use of the spectrum frequencies, taxation, and others, to be examined further on.

IoT Applications

There are IoT applications in houses and buildings. IoT products for smart homes – controlling temperature, lights, security, and energy consumption, such as Alexa, a virtual assistant sold by Amazon2. In buildings, IoT applications are used for security, such as biometric control of entrance, as well as vehicle control in the garage.

In the industry, there are IoT projects for digitalization and robotization of factories, manufacturing of self-driving cars, etc. The so-called 4.0 Industry uses sensors with wireless networks to improve productivity in factories, control inventory conditions, monitor product transportation, as well as the environmental conditions of factories.

In the trade sector, IoT applications are used to monitor vehicle fleets, track containers in ports and ships, among others, control inventory in logistics distribution center, among other uses.

In agriculture, it is present in smart irrigation, controlling agricultural equipment, tracking plantations with drones, and monitoring climate conditions. IoT is also used to monitor cattle grazing.

IoT is present in the health sector allowing for remote monitoring of chronic patients, tracking high-cost medication, sensors can control the temperature of equipment such as surgical drills used in hip-replacement surgery, among other applications.

In the public sector, with have IoT projects for smart cities: public lighting networks with smart sensors, traffic-based traffic lights, etc.

In the financial industry, one of the applications of the Internet of Things is machine to machine communication. For example, electronic payment companies, through mobile apps, on small devices.

New business models for IoT applications that perform financial services through machine to machine communication require knowledge of the sectoral regulation adopted by Anatel (the Brazilian Telecommunications Regulatory Agency). This is because the business may rely on a virtual network of a mobile communications operator, or not. The IoT application’s business model may or may not use frequencies of the spectrum.

In other words, IoT applications rely on the telecommunications infrastructure network. Hence the need to examine the IoT business model to know if it may require a permit as an added-value service of the telecommunications network or authorization to the frequencies of the spectrum. Hence the regulatory role by Anatel in clarifying the regulatory framework applicable to IoT applications.

IoT: Security and Privacy Risks

The Internet of Things has the potential to collect the personal data of millions of people. There are possible risks to the security of personal data and privacy, with the remote monitoring of people’s consumption patterns, their location, behavior, preferences, and others by the technological devices.

Society must be aware of the hypervigilance risks caused by IoT networks, as well as the possible risks to digital freedom. Then, legislators can define in the proper laws the limits to IoT applications.

IoT Applications and the Demand for Connectivity Using the Telecommunications Infrastructure Network.

The Internet of Things requires digital communications networks infrastructure. It needs high-speed data transportation networks and access networks.

The 5G internet network, a high-speed network (the average speed is 10 Gbps, in comparison to the current 100 Mbps) is vital for IoT. This 5G network requires mobile telephony antennas and fiber optics, and cloud-based software solutions.

Challenges to the Regulation of IoT Applications.

In Brazil, IoT is not yet regulated.

The law must regulate the matter, through laws and decrees, along with self-regulatory measures by the companies that offer IoT devices.

In addition to regulation, the government must also provide incentives for the private sector to make investments in IoT network infrastructures.3

In Brazil, the Internet of Things is only mentioned in Decree No. 9.319/2018, that institutes the national digital transformation system.

This Decree deals with matters such as internet access and data transportation networks by mobile and landline broadband, the digital transformation of the economy, professional education and training, data-based economy, new business models.

Decree No. 9.319/2018 only mentions the following: “by recognizing the transformative potential of the Internet of Things applications, actions and incentives must be set to allow for the continuous evolution and dissemination of such devices and the associated technologies.

Anatel: Public Consultation on the Regulation of IoT Applications

Anatel recently opened Public Consultation No. 31, of September 2018, to reexamine the regulation to expand IoT applications.

The regulatory agency presented the following themes for assessment of regulatory impact: a) granting of IoT services based on new business models; b) rules for providing IoT services; c) the matter of taxation and licensing of IoT services; d) numbering to meet the demand of IoT devices (used to address and identify these devices in any network in the world); e) the cyber security of IoT devices (certification and approval of IoT devices); f) the spectrum band available for IoT (and, also, non-monetary bids for new frequencies; g) broadband infrastructure to support IoT services; h) domestic roaming agreements, given the offering of IoT services based on global connectivity providers.

Anatel mentions the National IoT Plan, and the IoT Chamber, established in the form of Decree No. 8.234/2014, as one of the grounds used to open the matter to public consultation. This Decree regulates Article 38 of Law No. 12.715/2012, which deals with the taxation of machine to machine communications. According to that norm, the Ministry of Communications (currently, the Ministry of Science, Technology, innovation, and Communication) will create a chamber to manage and monitor the development of machine to machine communication systems. Under this Decree, Anatel will regulate and monitor compliance with its provisions.

According to Anatel, the purpose of the IoT Chamber is manage and monitor the development of machine to machine communication, to apply Article 38 of Law No 12.715/2012, which deals with the taxation of machine to machine applications. Note that the law refers solely to the issue of taxation of IoT applications.

Still, according to Anatel, some Iot/M2M (machine to machine communication) business models do not fit the typical features of telecommunications services, as per the current regulations. Hence the need to adjust the regulation of IoT/M2M services.

The regulatory agency also points out the lack of flexibility of the regulation for personal mobile services (SMP), through virtual networks for IoT applications.

According to Anatel, some IoT applications use as support personal mobile telecommunication services.

Telecommunication services are regulated based on the obligation burden of providing communication between people, hence the requirements of consumer protection and quality.

However, such consumer and quality obligations from telecom regulations do not make sense for IoT applications. Thus, one of the possible paths is establishing a differentiated scheme for IoT applications, with the possibility of the matter being defined in contract.

Also, the Mobile Network Operator (MNO) registration model requires being bound to a provider at the origin. However, this requirement does not make sense for IoT applications. Amongst the alternatives is establishing a differentiated scheme for IoT applications, through virtual networks, based on personal mobile services.4

Discussion on the Legal Qualification of IoT Applications

There is a discussion on the legal qualification of the Internet of Things.

The tendency is to qualify it as an added-value service of the telecommunications network. The concept of added-value service is in Article 61 of the General Telecommunications Act. However, it is distinguished from the concept of telecommunications services, which traditionally comprehends landline and personal mobile telephony services.

So, if the Internet of Things is qualified as an added-value service, it may be subject to the ISS municipal service tax.

However, if IoT is qualified as a telecommunications service, it will be subject to the ICMS State sales tax.

Bills for Tax Exemption of Machine to Machine Communication to Promote the Development of IoT and Application Business Models

There are some bills to remove taxation from IoT stations.5 Such is the case of Bill No. 7.656/2017.

The bill grants to Anatel the power to define the concept of machine to machine communication to apply the rule of tax exemption of the Contribution to Promote Public Radio Broadcasting and Contribution for Development of the Cinema Industry.6

It’s hard delegating to the regulatory agency the definition of the concept of machine to machine communication for taxation purposes. The law must define this concept. This is required under the principle of strict legality. Otherwise, this leads to legal uncertainty in the practical application of the concept within the regulation of the Internet of Things, with the risk of judicialization of the matter.

The public consultation held by Anatel registers the issue of the application of the licensing fees for stations (TF1 – fee for inspection of installation and TFF – fee for inspection of Operations) that may make the IoT/M2M business models unfeasible.

There is a discussion regarding the alternatives, in the sense of exempting or applying zero rates to the licensing fee of IoT/M2M terminals, waiving the licensing of such terminals or taxation based on a percentage of the revenue of the business and not by device.

The Issue of Net Neutrality

Another regulatory challenge is the issue of Net Neutrality, stated in the Internet Regulatory Framework. With the implementation of IoT networks, there will probably be a demand for flexibility of net neutrality. For example, the Internet of Things related to communication between vehicles, giving priority to ambulance services, is cited as one such demand for flexibility of net neutrality.

For example, in the United States, given the legal ambiguity of the Communication Act, there is a controversy regarding Internet neutrality. Initially, the Federal Communication Commission, during the Obama administration, qualified internet connection services as telecommunication services to guarantee the obligations regarding net neutrality. Later, in the Trump administration, the regulatory agency removed net neutrality.

In Brazil, however, the concept of net neutrality is defined in the Internet Regulatory Framework.

Frequencies of the Spectrum

Another issue related to the regulation of IoT applications is defining the range of the frequencies of the spectrum to be used, the licensed and unlicensed range, to be decided by Anatel. For example, the Internet of Things depends on wireless communication networks.

Privacy and Security Standards of IoT Applications

Another regulatory challenge of IoT is defining the privacy and security standards of the data collected through landline and mobile devices. Regulation is also vital to protect the personal data of users of IoT application.

In this regard, it must be highlighted that Brazil recently passed Law 13.709/2018 that deals with the protection of personal data, with rules for private companies and the public sector. There are also rules on the international transfer of personal data between companies.

If the IoT network’s architecture is not built correctly, there are severe risks to the security and privacy of the data transported by the networks. For security reasons, the digital identification of physical and virtual objects is essential.

International Scenario on Cyber Security and IoT

The matter of the Internet of Things is directly associated with the issue of cyber security.

In this regard, Anatel’s public consultation opened to the discussion on the issues of certification and approval of the IoT devices.

For example, the United States passed the Internet of Things (IoT) Cybersecurity Improvement Act of 2017.

This North American legislation holds the standards for IoT devices purchased by federal agencies. Thus, the suppliers and operators of IoT equipment (such as the design of the microchips used in machines and networks) for the USA government and its agencies must adjust to the cyber security guidelines.

Also, recently, California passed Senate Bill – SB 327 to protect the privacy of information in connected devices (IoT).

According to the California Bill, the manufacturer of connected devices must follow reasonable security standards, according to the following aspects: appropriate to the nature and function of the technological devices, appropriate to the information collected, stored, and transmitted; designed to protect the device and any information stored from unauthorized access, destruction, use, alteration or opening, among other rules. If the Governor of California sanctions the bill, it will come into effect in January 2020.

According to its critics, the bill is the first step, even if it contains superficial and incomplete definitions of security. The critics say that the bill does not indicate the security measures such as device certificate, code signature, and firmware safety audits, purchased from IoT suppliers that buy them from suppliers abroad. The bill also does not define liability in case of unauthorized access through coded encryption keys.7

Thus, the matter of the Internet of Things is directly associated with the issue of national cybersecurity in light of external threats. Cyber-attacks to public and private networks by hackers present challenges to national security.

Finally, in the United States, there are rules for IoT security set by the National Congress that must be followed by the industry. Over there, they are also debating whether there should be mandatory certification of IoT devices.

To better understand the context, the United States has adopted measures to prevent China from buying American technology companies (mobile phone and computer chip manufacturers). In addition to the issue of international competitiveness, there are allegations of risks to national security. The United States are concerned with the 5G network, specifically with it being dominated by foreign companies, overall Chinese companies. Hence the trade war between the United States and China in this cyber security realm.

The matter must be seen from the context of the big picture, as characterized by the trade war between the United States and China for technological leadership.

China has a program called Made in China 2025 with clear objectives to obtain its technological independence by manufacturing cell phone chips, robots, and the digitalization of its industry. Hence the international discussion around intellectual property, technology transfer, cyber security, etc.

Opportunities in IoT Applications

IoT holds tremendous opportunities for telecommunication companies, internet connection providers, and for the companies that explore this type of business. It creates demands for the creation of data centers and implementation for more networks of cellular antennas.8 There are even credit facilities for IoT startups through the Brazilian Development Bank – BNDES (via Finep).

IoT applications present challenges and opportunities for device manufacturers, network operators, and startups with new business models.

In sum, the regulation of the Internet of Things has significant repercussions in the present and near future.

_______________________

1 According to the International Telecommunications Union, the internet of things is: “a global infrastructure for the information society, enabling advanced services by interconnecting (physical and virtual) things based on existing and evolving interoperable information and communication technologies (ICT).

2 Problems have been reported regarding the security and privacy of people due to the use of technological devices that can record all conversations held close to the equipment. There are even cases of baby monitors that monitor children and homes being hacked. Hence, in the United States, consumers are demanding security and privacy measures for IoT products. The United States Senate, through its Committee on Commerce, Science, and Transportation, held a public hearing on the matter of guarantees to protect consumers’ privacy. It called representatives of the companies AT&T, Amazon, Google, Twitter, Apple, and Charter. In sum, the technology companies support a federal bill to protect the consumers’ right to privacy, to avoid having the North American States passing laws on the same matter. Amazon’s representative gave a statement on Alexa, a cloud-based voice service. According to him, when Alexa is activated, the consumer is informed that the cloud-based audio streaming service is in operation; also, that the device can be turned off through Echo/Alexa’s microphone button; and, finally, that the Echo hardware and Alexa’s service were designed to allow control by the consumer.

Google has announced that it will invest USD 140 million to expand its datacenter in Chile. It is the first Google datacenter in Latin America that will operate as infrastructure to offer cloud computing services. According to the press, Chile was chosen given the favorable environment for foreign investments, a clear regulatory framework, and renewable energy sources.
Brazil lost the opportunity to attract this type of investment from a global company, that would create jobs and generate income in the country. This fact attests to Brazil’s delay in establishing a policy to promote investments in datacenters in Brazilian territory and, accordingly, to compete in the international market.
India, in its turn, has recently passed a law requiring foreign technology companies to store their users’ personal data in Indian territory. The law has an impact on companies such as Facebook, PayPal, Mastercard, and others.

4 Anatel, in July 2018, authorized the company Safra Telecomunicações to operate as a Mobile Virtual Network Operator (MVNO).

5 Article 38. The value of the Fee for Inspection of the Installation of Mobile Stations of Personal Mobile Services, Cellular Mobile Services or any other telecommunication service, as per Law No. 5.070, as amended, that integrate machine to machine communication systems, as defined in the regulation to be issued by the Executive Branch, is set at BRL 5.68. (Regulation) Sole paragraph. The Fee for Inspection of Operations will be paid annually, by March 31st, and its value corresponds to thirty-three percent of the Fee for Inspection of the Installation.

6 In its turn, Decree No. 8.234/2014, which regulates Article 38, of Law No. 12.715/2012, defines the following: “Article. 1. For the purpose of the provided in Article 38, of Law No. 12.715, of September 17, 2012, machine to machine communication systems are deemed to be the devices that use telecommunication networks to transmit data to remote applications, without human intervention, with the purpose of monitoring, measuring, and controlling the device, the environment around it, or the data systems connected thereto through such networks”.

7 The press recently announced a security breach by Amazon that allegedly leaked the access code to the company’s system.

8 Thecountry was due to its political stability, the regulatory framework to attract private investments and economic stability press recently published that Google is expanding its data center in Chile. The choice to invest in that .

Artigo publicado no portal jurídico Migalhas Internacional em 09/10/2018.

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Entre avanços e ameaças à democracia brasileira: os 30 anos da Constituição do Brasil

A salvação da democracia está consciência política dos brasileiros, com a compreensão dos fatos, sem julgamentos parciais e unilaterais.

Somos 208 milhões de brasileiros. Somos 147 milhões de eleitores. Temos mais de 12 milhões de desempregados. Mais de 27 milhões de pessoas subocupadas.1

O presente texto tem o propósito de buscar a compreensão do momento histórico do país, mergulhado em profunda crise dos sistemas político, econômico e social. O objetivo é apresentar a visão suprapartidária, de compromisso com a construção do diálogo em tornos dos valores fundamentais da democracia e das instituições democráticas. A democracia é submetida, freqüentemente a ataques autoritários. O paradoxo trágico da democracia é sua abertura para movimentos extremistas que acabam por mata-la. Daí a reflexão sobre este relevante tema para a defesa do Estado Democrático de Direito.

Os fatos econômicos, políticos e sociais são preocupantes. No Brasil, em 2018, há a gravíssima crise das dívidas do governo federal. A dívida pública total é superior a mais de R$ 5 trilhões de reais, aproximadamente, 80% do PIB deste ano. A dívida pública federal é consequência de déficits primários de mais de R$ 400 bilhões, nos últimos quatro anos. E a dívida pública do governo federal está próxima de R$ 4 trilhões. Gastos obrigatórios do governo federal (salários dos funcionários públicos e benefícios da previdência) consomem 80% das receitas da União.2 Para 2018, há previsão de gastos do governo federal com o pagamento de juros é calculada em torno de R$ 380 bilhões.

Enfim, a situação do país é dramática, há o sério de risco de que o governo federal não seja capaz de pagar suas dívidas. Este é o grave cenário econômico apresentado pelo ex presidente Fernando Henrique Cardoso, em sua Carta aos brasileiros, o qual conclama a união nacional, para evitar o agravamento da crise e se buscar soluções democráticas para resolver os problemas.3

Diante destes fatos, é urgente cobrar a responsabilidade dos candidatos à presidência da República quanto ao saneamento das contas públicas do governo federal.

Na política, o cenário está polarizado. Basicamente, as pesquisas eleitorais apontam para a polarização entre os lulistas e petistas (agora, representados pelo candidato Haddad) e os antilulistas e antipetistas, estes sob a liderança do bolsonarismo, baseado no lema do Deus acima de todos, o Brasil acima de tudo.

Ambas as ideologias políticas são objeto de fortes críticas, diante de suas posições perante o sistema político, econômico e social. De um lado, falta ao PT o reconhecimento de responsabilidade de seus governos perante a crise econômica. De outro lado, faltam ao PSL e o candidato Bolsonaro a compromisso firme e explícito do compromisso com a democracia e as instituições democráticas.

É fundamental o diálogo entre os representantes da centro-esquerda e da centro-direita no país, para evitar os perigos à democracia brasileira.4 Sem uma solução de compromisso entre as forças políticas, dificilmente, sairemos da grave crise política e econômica.

Internamente, brasileiros e brasileiros estão divididos, em suas opiniões quanto às opções políticas representados pelos candidatos e partidos políticos nas eleições em outubro de 2018. Há clima de ódio, raiva, medo e indignação, ampliados nas redes sociais. As intenções de votos estão sendo formadas por rejeições a determinados candidatos, do que propriamente por convicções nas candidaturas.

Enfim, há bipolarização do campo político, entre o primeiro e o segundo colocados nas pesquisas de intenções de voto para as eleições de 2018 para o cargo de presidente da República. Por ora, não há definição política da terceira alternativa, para os eleitores brasileiros.

Entre a esquerda e a direita, há a disputa entre o centro do espectro político. Há o vazio do centro político brasileiro, o qual é marcado pela moderação, pelo equilíbrio das posições na economia, na sociedade e no estado.5 É fundamental a caminhada até o centro do campo político para assegurar a governabilidade do país, independentemente de quem ganhe as eleições. Afinal, o presidente da República terá necessariamente que dialogar com o Congresso Nacional para poder governar e dirigir o país.

Mas, o pior é o ressurgimento do fantasma fardado no ambiente eleitoral (espectros do regime militar), isto é, sinais manifestados por determinados candidatos e seus respectivos apoiadores, aliados ao bolsonarismo.

Mas, como explicam os professores de Harvard Steven Levitsky e Daniel Ziblatt que as democracia morrem, atualmente, não mais por golpes militares, mas por presidentes eleitos que matam as normas constitucionais de modo lento.6 Segundo o autor, o paradoxo trágico da democracia é sua aberta para a entrada de extremistas que acabam por mata-la, com medidas graduais, sob diversas bandeiras, desde o combate à corrupção, o cenário de violência, até a grave crise nacional. Cita, como exemplo, a opinião de um apoiador de Hugo Chavez que declarou: “A democracia está infectada. E Chavez é o único antibiótico que temos”. Ora, esta ideologia produziu o efeito contrário, a morte da democracia na Venezuela. Concluiu o autor que a polarização política extrema é capaz de matar a democracia. Também, ele explica as táticas políticas utilizadas pelos autocratas, desde a negação do resultado das eleições até a criminalização dos adversários políticos.

Ameaças públicas explícitas de autogolpe se houver o caos nas instituições, como o Executivo, Legislativo e Judiciário. Também, um candidato declarou apoio à realização de Assembleia Constituinte sem representantes eleitos pelo povo, algo evidentemente contrário ao Estado Democrático de Direito. Um candidato à presidência da República declarou que não aceitará o resultado das eleições se perder. Depois, voltou atrás em suas manifestações.

E, ainda, um candidato a vice-presidente declarou que famílias chefiadas por mães e/ou por avós são “fábricas de desajustados”. Ora, a mãe e/ou vó não são as responsáveis pela violência social. A violência juvenil tem múltiplas causas, mas, querer culpar as mães e as avós por isso é difamação histórica!

E, infelizmente, pesquisas apontam que para parcela do eleitorado a democracia pode ser relativizada. Há simpatia para governos autoritários. Ora, este tipo de sentimento antidemocrático é péssimo para o Brasil, ficando na contramão das democracias mais avançadas. É grave sintoma da falta da efetivação da democracia em nosso país. É sintoma do atraso cultural em que vivemos. Precisamos avançar e muito na consolidação da democracia, com a promoção da inclusão social e da defesa dos direitos fundamentais!

A situação do país é gravíssima. É urgente e necessária a união dos democratas brasileiros, diante de fantasmas do regime militar, para uns ditadura militar para outros apenas movimento de 1964. Não é admissível, no Estado Democrático de Direito, deixar portas e janelas abertas para este tipo de pensamento e sentimento autoritários e extremistas.

Nas redes sociais são espalhadas fake news e ofensas pessoais. As redes sociais ampliaram a difusão dos sentimentos e opiniões particulares. Se, por um lado, possibilitaram o exercício da liberdade de expressão, de informação e de comunicação. Por outro lado, as redes sociais servem à disseminação de discursos de ódio, de ataques pessoais, de fake news, destruição de candidaturas.

Dentro deste contexto, a importância da imprensa tradicional, no seu trabalho de diferenciar entre o fato ou fake news, para verificar a autenticidade da notícia. A mídia e os jornalistas têm responsabilidade enorme perante o Estado Democrático de Direito, com a verificação da veracidade da informação. A notícia falsa e a mentira destroem o ambiente democrático.

A propósito, o TSE celebrou termos de compromisso com os partidos políticos para combater a divulgação de fake news nas eleições brasileiras de 2018.

Entende-se a paixão política, as frustações, a necessidade de uma figura de autoridade. Mas, os sentimentos negativos não servem para o amadurecimento das instituições.

Falta tolerância, amor, cordialidade, fraternidade, solidariedade. Falta diálogo fundado em fatos e argumentos! Conflitos, divergências de opiniões, são naturais e saudáveis para democracia. Há, porém, opiniões que manifestam ódio, racismo e autoritarismo em nada contribuem para o futuro do Brasil e dos brasileiros. As escolhas eleitorais baseadas em emoções negativas, em sentidos de indignação, frustação, em candidatos antidemocráticos, nada contribuem para o enraizamento democrático.

Diante destas manifestações é necessário refrescar a memória coletiva sobre os antecedentes históricos da Constituição, as razões do Estado Democrático de Direito, para combater abusos contra os direitos humanos.

Ora, todos nós vivemos sob a Constituição de 1988. A Constituição de 1988 completa 30 Anos, em 5 outubro de 2018. Aqui, é importante o exercício da memória coletiva sobre a vida política do país. Esta data simbólica é a oportunidade para algumas reflexões, especialmente sobre o papel da Constituição de 1988 para afirmar o Estado Democrático de Direito, em resposta aos regimes autoritários do passado.

Como disse Ulisses Guimaraes, na promulgação da Constituição: “Quando, após tantos anos de lutas e sacrifícios, promulgamos o estatuto do homem, da liberdade e da democracia, bradamos por imposição de sua honra: temos ódio à ditadura. Ódio e nojo. Amaldiçoamos a tirania onde quer que ela desgrace homens e nações, principalmente na América Latina”.

E, prossegue Ulisses Guimarães:

“A Constituição certamente não é perfeita. Ela própria o confessa, ao admitir a reforma. Quanto a ela, discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la nunca. Traidor da Constituição é traidor da Pátria. Conhecemos o caminho maldito: rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio, o cemitério. A persistência da Constituição é a sobrevivência da democracia”.

Também, é a oportunidade para refletirmos sobre o papel constitucional do STF.

A Constituição de 1988 representou o avanço democrático do Brasil, pois propõe respostas para o passado, de negação da democracia, do Estado Democrático de Direito, dos direitos políticos, direitos humanos, direito de se candidatar e o direito de votar, entre outros.

Como resultado a Constituição, o Brasil, no período da democratização, teve os seguintes presidentes da República: Sarney (1985-1999) – sucessor de Tancredo Neves, este foi eleito em colégio eleitoral, não chegou a exercer o mandato, pois faleceu), Collor (1990-1992, perdeu o mandato em processo de impeachment), Itamar (vice-presidente sucessor de Collor) – 1992 – 1995, Fernando Henrique Cardoso (PSDB, 1995 a 2003, reeleito), Lula (2003-2011, reeleito), Dilma (PT, 2011-2016, perdeu o segundo mandato em processo de impeachment), Temer (PMDB, vice-presidente sucessor de Dilma, após o impeachment de Dilma), 2016-2018.

A seguir, o destaque à soberania popular como fundamento do Estado Democrático de Direito.

Soberania popular: o direito de votar e de ser eleito. As raízes do Estado Democrático de Direito

Os avanços da cultura democrática são historicamente lentos.

No Brasil, o voto universal surge apenas a partir da redemocratização do país.

A título histórico, o voto feminino ocorre apenas em 1932. Como destaca o presidente do STF min. Toffoli em seu discurso de posse, em 1985, após um século de exclusão, 65% da população elegeu o Congresso Constituinte.

Ora, vamos lembrar que o pilar da democracia é a soberania popular. As eleições são as raízes da democracia. O voto popular é a fonte da democracia. O povo é o titular do poder político. O governo e o congresso são formados a partir da vontade popular manifestada nas urnas. Os partidos políticos servem à representação eleitoral. Acima de todos, está a Constituição. Como intérprete final da Constituição, o STF.

Certamente, há muito a ser feito para enraizar a democracia no Brasil. Milhões de brasileiros estão excluídos do mercado de trabalho. Milhões de brasileiros têm seus direitos constitucionais negados. Milhares de brasileiros sofrem com a violência nas cidades e em áreas rurais.

Na Constituição está consagrada a soberania popular. O povo é soberano para escolher seus representantes na Presidente da República, na Câmara dos Deputados, no Senado, nos governos estaduais, nas Assembleias Legislativas, nas prefeituras e Câmara de Vereadores.

Como pilar estrutural da Constituição do Brasil, a garantia da dignidade humana. A Carta Constitucional de 1988 contém catálogo exemplar de direitos humanos. Os direitos humanos são símbolos da humanidade em proteção às pessoas, diante de Estados, corporações, grupos e indivíduos. Foram garantidos em Cartas Constitucionais justamente para proteger diante de abusos cometidos em regimes totalitários e autoritários. Com a democracia, o direito dos cidadãos a ter direitos.Não há democracia sem direitos humanos! Negar direitos humanos é negar a essência da democracia!

Quem não compreende o significado dos direitos humanos não entende a dignidade humana como princípio democrático!

Ideologias autoritárias : os perigos à democracia

A análise de fatos históricos serve à compreensão do presente, bem como dos perigos à democracia, diante de ideologias propagadas à opinião pública como liberais, mas de matriz autoritária.

O descrédito da classe política proporcionou o surgimento de movimentos de extrema direita em nosso país, e também na Europa. As crises contemporâneas representam crises de narrativas. O discurso oficial dos representantes das instituições políticas e dos políticos não é mais capaz de mobilizar a sociedade. Há o fosso entre representantes políticos e os cidadãos. Há movimentos antipolíticos e antidemocráticos que surgem no Brasil e no mundo.

Segundo Zygmunt Baumann e Ezio Mauro, no livro Babbel: entre a incerteza e a esperança:

“Norberto Bobbio compreendeu que a antipolítica criava a ilusão de óptica de uma reserva de força (que na verdade é estéril, já que incapaz de traduzir-se em jogo institucional e em governo de fato) e explicou dizendo que a política foi inventada para nos permitir tempo a desatar os nós do mundo contemporâneo, enquanto o populismo propõe cortar esses nós com uma espada”.

Ou seja, o populismo autoritário é ativado mediante discursos de força, baseados em medidas autoritárias. Em comum, o ódio à democracia!

E, segundos os referidos escritores, os portadores da espada buscam destruir procedimentos e regras, ignorando que estas garantias foram criadas para possibilitar a coexistência pacífica dentro da sociedade política.8

Como explicam os autores, a crise do Estado-nação que perde sua capacidade de proteger a liberdade e a igualdade diante da escala e complexidade dos problemas, no contexto de um mundo globalizado. Como efeito desta crise, o cidadão sente-se traído e frustrado em face das promessas democráticas. Em épocas de graves crises econômicas, o sentimento antidemocrático aumenta.

Há o distanciamento entre as legítimas expectativas e as demandas sociais por educação, saúde, segurança pública, previdência, qualidade dos serviços públicos e a capacidade de ação dos representantes políticos e dos governos.

Assim, a crise do modelo das democracias liberais não é só no Brasil, mas no mundo, diante das dificuldades da democracia em atender as expectativas sociais, especialmente diante para as pessoas que perderam seus empregos diante da crise econômica e da também dos avanços da automatização industrial. A efetivação da democracia demanda a realização de políticas públicas de inclusão social no campo econômico, com a criação de oportunidades econômicas.

A história brasileira: os governos autoritários, o período anterior à Constituição de 1988 (o regime militar de 1964-1985)

Para compreender o movimento de redemocratização do Brasil que resultou na Constituição de 1988 é importante voltarmos no tempo, para entendermos o passado brasileiro.

Ora, a história da República é, infelizmente, a sucessão de golpes, contragolpes, conspirações, rebeliões. Vivemos poucos períodos de efetiva democracia em nosso país. O regime militar de 1964 a 1985, deixou graves feridas no Brasil, sob todas as perspectivas. A repressão militar deixou fantasmas que não desapareceram ainda do cenário nacional. Por 21 anos, generais assumiram a presidência da República. No regime militar, não houve o voto popular!

Prisões, mortes, desaparecidos políticos, torturas, cassação de direitos políticos, exílio político, fechamento do Congresso Nacional, censura à imprensa, cassação da liberdade de catédra, perda de cargos públicos, negação do direito de greve, entre outros atos.9

Segundo a ideologia autoritária dominante do regime militar, as eleições perturbavam a vida do país. E, ainda, no contexto da época, questionava-se se o povo estaria preparado para votar. Também, no apogeu do ciclo de crescimento econômico do regime militar (1970-1972, dizia-se que o país estava muito bem, o povo é que ia mal.10

Os analistas econômicos concluem: como herança do regime militar ficou o modelo econômico de economia fechada e pesada intervenção do estado no mercado. Responsável pela baixa produtividade da economia brasileira, bem como pela baixa produtividade do trabalho.

Conforme resume bem Carlos Heitor Cony no contexto de 1964:

“O movimento que depôs o sr. João Goulart conta com as simpatias de alguma parte da população. Sufocar a liberdade de um povo porque alguns líderes não souberam ser dignos do mandato do povo é trair o povo. Mais: é trair a dignidade da condição humana. Não há medo. Há um futuro. E é nele que creio”.11Esta crônica foi escrita em 9 de abril de 1964. O futuro chegou apenas em 1985, com as eleições diretas.

Para lembrar os fatos históricos, antecedentes ao regime militar de 1964-1985. Jânio Quadros renuncia ao cargo de presidente da República. Em seu lugar, assume João Goulart. Os militares, em 31 de março de 1964, anunciam a revolução, com a deposição do presidente João Goulart. A partir daí, então, cinco generais do Exército assumem o comando do Executivo: Castelllo Branco (1964-1967), Costa e Silva (1967-1969), Garrastazu Médici (1969-1974), Ernesto Geisel (1974-1979) e João Figueiredo (1979-1985).

Segundo as historiadoras Lilia M. Schwarcks e Heloisa M. Starling ,no livro Brasil: uma biografia:

“As Forças Armadas intervieram na cena pública em 1964 e ficaram 21 anos no poder porque julgavam ser isso do interesse da instituição – e, como até hoje se imaginam com legitimidade própria, consideraram estar agindo em benefício do país. Quando avaliaram a conveniência de abrir mão do controle direto do Executivo, também trataram de preservar seus interesses específicos”.12

Vale dizer, as Forças Armadas, a pretexto de servir ao país, acabaram por negar o Estado Democrático de Direito, no período de 1964-1985. Mas, para eles, o movimento de 1964 serviu para garantir a democracia no país, diante da ameaça comunista e da quebra da hierarquia militar causada pelo ex presidente João Goulart.

A seguir, a importância do STF para garantir a democracia em nosso país.

STF como instituição garantidora da Constituição do Brasil e da democracia.

O STF afirmou-se nestes 30 anos como o protetor da Constituição.13

Decisões históricas de ampla repercussão nacional foram tomadas pelo STF. Este órgão do Judiciário vem interpretando e aplicando, na prática, as regras da Constituição.

Para alguns tradicionalistas críticos, o STF invade competências constitucionais do Executivo e do Legislativo.

Para outros, o protagonismo do STF é consequência da crise de representação política e da necessidade de suprir as fortes demandas sociais e econômicas.

Em artigo na Folha de São Paulo, intitulado paradoxo da democracia. O que fazer quando a maioria erra?, o professor Oscar Vilhena Vieira, levanta a questão da fragilidade das democracias diante de seus inimigos, bem como a capacidade institucional do STF em resistir a ataques autoritários. Daí a relevância da conscientização da sociedade sobre a importância do STF para proteger a democracia em nosso País.

Na Constituição de 1988, há princípio da separação dos poderes, os quais devem agir harmonicamente entre si. Não há relação de subordinação entre os três poderes da República.

Em época de tensão, o STF tem o elevado papel de atuar como o poder moderador do estado, com a garantida da estabilidade das instituições democráticas. Ele é o fiel da balança, para restaurar o equilíbrio entre os poderes, principalmente, quando há crise entre os poderes executivo e legislativo. E está cumprindo bem o seu papel histórico diante de graves crises das instituições políticas.

A propósito sobre o papel do magistrado, no contexto de graves conflitos, Platão, menciona que o juiz ideal é capaz de, ao se deparar com uma família dividida, não destrói nenhum de seus membros, com a simples proclamação da vitória da parte contrária. Ao contrário, busca a reconciliação e a garantia de uma paz permanente.

E, questiona o filósofo sobre o juiz ideal:

“E qual destes dois seria o melhor: um juiz que destruísse todos os maus no seu seio e encarregasse os bons de se governar, ou um juiz que fizesse os bons membros governar e ao mesmo tempo que permitisse que os maus vivessem, os fizesse submeter-se voluntariamente ao governo? E há um terceiro juiz que temos que mencionar (terceiro e melhor do ponto de vista do mérito) – se de fato um tal juiz pode ser encontrado – que ao lidar com uma única família dividida não destrói nenhum dos membros desta, mas sim os reconcilia e consegue decretando leis para eles, assegurar entre os mesmos doravante uma amizade permanente”.14

Ora, a moderação deve ser o valor fundamental da atuação do Poder Judiciário, caso contrário são criados excessos danosos à própria democracia.

Neste aspecto, é importante considerar os efeitos colaterais da judicialização da política, bem como a judicialização de temas sobre a economia. O protagonismo do Judiciário pode criar efeitos colaterais sobre a economia brasileira. O Estado-judicial não pode se sobrepor ao Estado-executivo, nem ao Estado-legislativo. A sociedade civil há de decidir sobre os custos-benefícios da atuação judiciária que impactam a economia e a política.

Também, no Estado Democrático de Direito, é preocupante a formação de um estado-policial que paute a agenda da mídia no país. No Estado Democrático de Direito, é preocupante a formação de um estado-militar. Em um estado saudável, os protagonistas são o mercado e a sociedade, não o aparelho de repressão policial! Infelizmente, a sociedade-espetáculo e o estado-espetáculo pautam a agenda nacional!

O STF: o impacto dos atos do regime militar

Em 2018, o STF está sob intensas pressões. Alguns candidatos defendem, inclusive, o aumento do número de ministros, a adoção da figura do mandato por prazo determinado, entre outras medidas. Diante deste tipo de pressão sobre o STF, cumpre analisar a história brasileira.

A história mostra que o regime militar atingiu o STF, em diversos momentos.

Com o Ato Institucional 2 do general Castello Branco, aprovado em 1965, houve o aumento do número de ministros de onze para dezesseis, criação de terceira turma de julgamento, suspensão de garantias constitucionais ou legais de vitaliciedade, inamovibilidade e estabilidade, com autorização do CSN para demitir magistrados.

Com o Ato Institucional 5, do General Costa e Silva, de 1968, foi decretada a aposentadoria compulsória de ministros, suspensão da garantia do HC. O ato institucional 5 aposentou três ministros do STF: Evandro Lins e Silva, Victor Nunes Leal e Hermes Lima. Depois, pressionou a aposentadoria de Gonçalves de Oliveira e Lafayette de Andrade.

À época como julgamento histórico do STF, o caso de ex-presidente João Goulart. O STF debateu sobre se havia competência de foro para julgar o ex-presidente da República, diante da cassação dos direitos políticos. Por maioria de votos, o STF entendeu que não havia competência por prerrogativa de foro.

Estes fatos estão descritos na obra Tanques e Togas. O STF e a Ditadura Militar, do jornalista Felipe Recondo. O livro cita ex-ministro Hermes Lima que, em suas memórias publicadas em 1974, escreveu: “o que tem traumatizado a função protetora do Supremo é a rotura da ordem constitucional. Quando se verifica, o poder político armado e deliberante, exigindo seu arbítrio em norma de ação, vai até o extremo de julgar os próprios juízes”. Diante do poder das armas, falece o poder da toga!

Segundo ainda o referido livro:

“Durante a ditadura militar, as competências do Supremo foram progressivamente suprimidas. O tribunal passou a ser composto, a partir do Ato Institucional 2, conforme padrão projetado pelos militares. Pouco lhe restou, pouca disposição havia para ativismos e pouco interesse existia sobre seu funcionamento. Hoje, o Supremo concentra atenções, pauta o noticiário nacional, divide torcidas: cenário muito distinto”.15

Em oposição ao regime militar, diante das práticas de tortura e violência, foram criados grupos de resistência armada. Terrorismo político, quarteladas, violência, atentados e mortes de ambos os lados, grupos de direita e de esquerda.16

Erros históricos de extrema direita e extrema esquerda ainda são fantasmas que assustam o país!

Da Anistia política aprovada no regime militar

Em 1979, o general Figueiredo publica a lei da Anistia Geral e Irrestrita para aqueles que praticaram, no período entre 2 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1997, crimes políticos e/ou crimes eleitorais, bem como aqueles que tiverem seus direitos políticos suspensos.

Mas, a anistia ampla, geral e irrestrita foi a solução encontrada para o perdão para ambos os lados, de governantes e opositores ao regime militar.

O ex-presidente Figueiredo foi o escolhido, pelo general Geisel, para fazer justamente a transição entre o governo militar e a retomada do poder pelos civis. Na sua história, seu pai Euclides Figueiredo como militar viveu o drama do exílio, no período de Vargas.17

Na década de 80, o ex-presidente Lula foi preso por participar de greves no ABC paulista.

Transição democrática

Em 1984, Emenda pelas Diretas Já, de Dante de Oliveira é rejeitada pelo Congresso.

Em 1985, Tancredo Neves foi escolhido, no colégio eleitoral, para formar o primeiro governo civil, após o regime militar. Mas, devido à sua morte, Sarney assumiu a presidência.

Em 1987, foi instalada a Assembleia Nacional Constituinte, para preparar a nova Constituição, a qual foi promulgada em 1988.

Lei sobre desaparecidos políticos: o reconhecimento da morte civil

Durante o período, do governo Fernando Henrique Cardoso, foi aprovada a lei de reconhecimento do desaparecimento de pessoas, a lei 9.140/95.

Lei da Comissão Nacional da Verdade

Em 2011, no governo da presidente Dilma (vítima do governo militar) foi sancionada a lei 12.528 que institui a Comissão Nacional da Verdade, para investigar as violações aos direitos humanos cometidas no período de 18 de setembro de 1946 a 5 de outubro de 1988. Com base nesta lei, a Comissão Nacional da Verdade identificou os locais, as circunstâncias, as pessoas, associadas às práticas sistemáticas de torturas e violência contra presos políticos, durante o regime militar.

Do papel das Forças Armadas no Estado Democrático de Direito: a subordinação à Constituição do Brasil

A imprensa registrou declarações de um dos integrantes de uma chapa presidencial sobre a possibilidade de autogolpe em caso de anarquia, na hipótese de falência das instituições no cumprimento de seu papeis.

Ora, jamais a leitura da Constituição permite a conclusão no sentido de que as forças armadas possam substituir o papel das instituições democráticas.

Aliás, as Forças Armadas não são o quarto poder constitucional da República. Há apenas três Poderes da República são: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. As Forças Armadas devem estar a serviço dos três Poderes da República. As forças armadas devem obediência à Constituição do Estado Democrático de Direito. O Estado Democrático de Direito veio a substituir o Estado autoritário, à época do regime militar.

A Constituição de 1988 dispõe sobre as Forças Armadas o seguinte:

“Art. 142. As forças armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”.

Sublinhamos os verbos, referentes à norma constitucional em análise que impõe às Forças Armadas a subordinação à autoridade suprema do presidente da República, com a função democrática de defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e da garantia da lei e da ordem, por iniciativa de qualquer dos poderes constitucionais.

Ora, as instituições democráticas servem justamente para manter a normalidade da democracia, mas também para proteger os indivíduos. O foco das Forças Armadas deve ser a defesa do Brasil, principalmente diante de ameaças externas, nações estrangeiras e/ou inimigos.

Diante de invasões por forças armadas estrangeiras, por ameaças terroristas, desastres naturais, aí sim haverá o chamado das forças armadas nacionais pelo presidente da República e Congresso Nacional. A instituição militar deve proteger a nação, sobretudo de conflitos armados com nações estrangeiras.

O foco da instituição militar é a defesa nacional diante do inimigo externo. Porém, ideologias de extrema direita pensam o contrário, o inimigo está dentro do país. Não é admissível transformar adversários políticos em inimigos da nação!

No livro o Federalista, fonte de inspiração do constitucionalismo norte-americano, Alexandre Hamilton, James Madison e John Jay, descrevem o papel das forças armadas. Em destaque, o papel de forças armadas de defesa nacional, com a subordinação ao legislativo.18

Temos tantos desafios para enfrentar, no território brasileiro, no mar territorial brasileiro, espaço aéreo, e, também, no cenário cibernético. A questão tecnológica deveria ser uma das ocupações centrais da defesa nacional. Estamos mais vulneráveis às guerras cibernéticas do que as guerras terrestres, aéreas, ou marítimas. Estamos mais vulneráveis às guerras comerciais entre Estados Unidos e China, em relação à liderança tecnológica e comercial mundial. O Brasil demanda aviões, caças, porta-aviões, navios, submarinos, misseis, satélites, inteligência integrada, etc.

Supremacia do Direito sobre a força das armas: a raiz do Estado Democrático de Direito.

O ideal democrático é a supremacia do direito sobre a força bruta. O direito deve prevalecer sobre o poder. A regra de direito tem que vencer sobre o argumento da força.

Ora, a ordem jurídica serve à defesa da segurança coletiva, voltada à cultura da paz e não de mais violência. Segurança pública no Brasil é afetada pela falta de inclusão social; pela falta de oportunidade para jovens. Sem perspectiva para jovens no mercado de ensino e de trabalho, eles são capturados pela criminalidade. A polícia e o exército não tem como resolver este grave problema sozinhos, sem políticas públicas sociais.

Não vamos avançar, sem conhecer as raízes históricas, inclusive as feridas profundas, sem construir o consenso sobre a realidade presente, sem projetos práticos para o futuro.

O autoritarismo não é o remédio para resolver as doenças da democracia. Ao contrário, o autoritarismo é o veneno mortal da democracia. O remédio para a democracia passa pela política, para além dos representantes eleitos. Afinal, a democracia não se resume ao dia das eleições!

Na história do Brasil, há diversos episódios de lutas internas pelo poder, em movimentos de civis e militares. Para ficarmos em apenas um exemplo, Vargas, em 1930 assume a presidência, com deposição de Washington Luís. Em oposição, a Revolução Constitucionalista de 30 buscava defender a legalidade, mas restou vencida. Ou seja, no Brasil houve o cenário de guerra civil entre brasileiros. Vargas, vencedor, prendeu os revoltosos, cassou direitos civis, e exilou lideranças políticas e militares e prometeu reequipar com Exército, com a criação de indústria bélica nacional.19

Brasileiros e brasileiras podem ser, eventualmente, adversários políticos, mas não inimigos no sentido militar do termo. O que é fundamental é compreender os riscos da polarização política sobre a normalidade democrática!

Ideologias totalitárias e autoritárias que matam a democracia crescem em momentos de crise nacional: os exemplos do nazismo, fascismo e comunismo

O pior é que alguns candidatos plantam sementes autoritárias, para testar eventuais projetos de golpe contra as instituições democráticas, contra a Constituição de 1988. Como já referido anteriormente, atualmente, as democracias morrem com a entrada de líderes extremistas, através de eleições, que matam-na lentamente.

Forças antidemocráticas testam o sentimento popular. Criam balões de ensaio sobre golpes, com mensagens difundidas perante a opinião públicas. Não estão sendo responsáveis com o país, nem respeitando o povo!

Discursos que não respeitam o direito do voto dos eleitores são perigosos para a democracia. Discursos que não respeitem os resultados das urnas são hostis para a democracia.

Esta tática política já foi adotada anteriormente no Brasil na tentativa de impedir a posse de presidentes eleitos, pelo voto popular. Discursos simplistas, fáceis capazes de capturar a indignação do povo não são saudáveis para a democracia. Há apenas exploração de imagens e mensagens em redes sociais, em detrimento do amplo debate democrático.

Movimentos totalitários, como o nazismo e o fascismo e o comunismo, nascem de discursos que exploram os sentimentos coletivos, inclusive pregam discursos que exploram o medo (o sentimento de insegurança), a raiva (perda do emprego e da capacidade de consumo), a frustação (falta de oportunidades), entre outras questões.

Estes movimentos totalitários causaram a tragédia da morte da democracia, em países como a Alemanha, Itália e a ex-União Soviética. A queda da República de Weimar da Alemanha, com a ascensão de Hitler, como líder do nazismo, esteve ambientada no sentimento de humilhação causada pela perda da Primeira Guerra Mundial e o Tratado de Versailles, clima de forte crise econômica, com milhões de desempregados, quebra da produtividade, aumento de gastos militares, descontentamento em áreas rurais, intensas brigas entre a esquerda e a direita, sentimento de ódio aos judeus, etc.

Neste contexto de crise nacional, líderes empresariais em alianças com os militares e classe média criaram as bases para a formação de um governo de ditadura. Hitler conseguiu o poder com o apoio os militares alemães. Os nazistas ingressaram na vida política nacional da Alemanha, através de eleições. Entraram na via política pela democracia, dentro do sistema, resolveram matar a democracia.20 Todos os partidos políticos foram dizimados, à exceção do partido político de Hitler, o Partido Nacional Socialista. Foi fechado o Parlamento. Todos os governos estaduais e seus parlamentos foram suprimidos. Os sindicatos foram fechados. A liberdade de imprensa foi abolida. Os comunistas foram presos. Os judeus foram perseguidos, mortos e colocados em campos de concentração. Foi aprovada lei do Serviço civil que estabelecia a demissão de todos os funcionários, incluindo juízes que não merecessem confiança política. Foram criados tribunais especiais para julgar crimes políticos.21

Em diversos momentos, foi invocado o estado de emergência nacional (estado de exceção), com fundamento no art. 48 da Constituição de Weimar, o que possibilita a edição de decretos-lei pelo Presidente sem a aprovação do Parlamento, eis que impossível obter maioria parlamentar diante dos partidos de extrema direita e extrema esquerda.

Lei aprovada declarava que na hipótese de vacância do cargo de presidente haveria a extinção do cargo de vice-presidente, assumindo a presidência do primeiro ministro. Em 1933, devido à morte do presidente Hindenburg, aplicando-se esta lei, Hitler, à época era primeiro ministro, assumiu todos os poderes de chefe de Estado e comandante supremo das forças armadas. O título de presidente foi abolido, Hitler torna-se conhecido como Führer. Todos os oficiais e membros das forças armadas passam a fazer juramento pessoal a Hitler.22 O uso excessivo de poderes presidenciais ocasionou a perda da confiança do povo na democracia constitucional.23 Diante do cenário de violência política na Alemanha é que se resolveu invocar o auxílio das forças armadas.

Pela lei de Concessão de Plenos Poderes, de 1933 (Gezetz zur Behebung der not von volk und Reich – lei para sanar a aflição do Povo e da Nação), Hitler obteve plenos poderes. Por esta lei, Hitler poderia adotar leis ainda que contrárias à Constituição, inclusive poderia fazer emendas à Constituição sem aprovação de parlamento. Hitler torna-se a própria lei. Assim, nascia a ditadura nazista.

Logo, após a declaração da aprovação desta lei de Plenos Poderes, Hitler declarou:

“Pela sua decisão de realizar a faxina política e moral da nossa vida pública, o governo está criando e garantindo as condições para uma vida religiosa realmente profunda e íntima. As vantagens para o indivíduo que eventualmente se obtivesse, transigindo com as organizações atéias, de forma alguma se comparam com as evidentes consequências da destruição dos nossos valores religiosos e éticos compartilhados”.24

Ora, a democracia constitucional alemã, baseada na República Weimar, foi ferida de morte, a partir da ideologia nazista, baseada no discurso da faxina política e moral, para possibilitar a vida religiosa. Os nazistas eram patriotas, nacionalistas, racistas e antisemitas. O discurso de limpeza política e moral é perigoso para a democracia e para os direitos fundamentais!

Enfim, de um clima de intolerância dentro da Alemanha, contra tudo, e contra todos, nasceu Hitler e ensejou o Holocausto e os campos de concentração em Auschwitz. O horror foi criado por homens contra homens e mulheres e crianças, com rituais de fuzilamento e câmaras de gás.25

Como ensina Hannah Arendt, a violência destrói o poder, não o cria. Segundo ela: “Por isso, o poder e violência são termos opostos: a afirmação absoluta de um significa a ausência do outro. É a desintegração do poder que enseja a violência, pois quando os comandos não são mais generalizadamente acatados, por falta de consenso e da opinião favorável – implícita ou explícita – de muitos os meios violentos não têm utilidade”.26

O pacifismo inteligente : a cultura da paz, com a superação da glorificação da violência e do armamento

“A não violência é uma arma incomparável que pode ajudar a todos” – Mahatma Gandhi

Sobre o cenário em que vive o Brasil, de exploração do tema da segurança pública (especialmente das medidas de armamento), nas eleições, é oportuno invocar as lições de Norberto Bobbio sobre o pacifismo. Segundo o autor: “a violência talvez tenha deixado definitivamente de ser a parteira da história e está se tornando cada vez mais o seu coveiro”.27Diante do cenário de violência, ele advoga o pacifismo, como a busca para solução pacífica de conflitos e o desarmamento.

E, ainda, Bobbio comenta: “A história, como sempre, mantém sua ambiguidade avançando em direções opostas: em direção à paz ou em direção à guerra, em direção à liberdade ou em direção à opressão. O caminho da paz e da liberdade certamente passa pelo reconhecimento e pela proteção dos direitos do homem ….28

Sobre o pacifismo, via desarmamento, Bobbio ensina:

“A política do desarmamento em relação à guerra tem a mesma natureza do proibicionismo em relação à luta contra a embriaguez. Vocês querem salvar o homem do alcoolismo? Poupem-se das pregações moralistas que não servem para nada; não percam tempo buscando as razões sociais, econômicas, políticas do alcoolismo. Impeçam-no de beber. O proibicionismo, tal como a política de desarmamento, constitui, nos seus diferentes âmbitos, a solução do mínimo esforço. Vocês querem impedir as guerras? Se pretendem transformar o ânimo dos homens, são uns iludidos; se querem transformar antigas e bem-enraizadas instituições que tanto no bem quanto no mal fizeram a história, não conseguirão. A única solução possível é: “abaixo as armas, como anunciava o título de uma revista pacifista alemã do fim do século passado, dirigida e idealizada por Bertha von Suttner”.29

Além disto, ao tratar do cenário da guerra fria entre Estados Unidos e Rússia, após a segunda guerra mundial, Bobbio descreve que o equilíbrio para a manutenção da paz estava fundado no terror diante da ameaça nuclear.

E, conclui sobre os perigos desta política da paz, fundada no terror:

“O aumento vertiginoso da potência das armas pode, sim, afastar o perigo da guerra, mesmo que não a exclua, mas estabelece ao mesmo tempo as condições para uma guerra cada vez mais arrasadora. O terror posterga a guerra, mas esta, à medida que é postergada, torna-se, caso viesse a ser deflagrada, cada vez mais destrutiva. No instante mesmo que o terror afasta o perigo do extermínio, prepara-o com o meticuloso cuidado: pretender ser a verdadeira barreira contra a catástrofe, mas se esta vier a realizar-se, será a filha do terror”.30

Estas lições aplicam-se ao Brasil. A política de segurança pública voltada unilateralmente para combater a violência, mediante armamentos, seja armando as forças policiais, seja armando a população civil, pode controlar o crime organizado. Mas, no longo prazo, este tipo de política pública gera os efeitos que podem significar justamente o contrário; o aumento da violência.

Também, a realização de uma política pública de combate ao tráfico de drogas voltada unilateralmente à questão policial e criminal, não resolve o grave problema. É fundamental a realização de política de saúde pública de apoio aos dependentes químico, usuários de drogas.

Banalização do mal no Brasil : a busca da cultura a serviço do bem.

Um dos problemas do mundo, é a convivência crônica com a banalização do mal, isto é, o quadro de violência crônica,31 contra pobres, jovens, negros, mulheres, etc.

Segundo a autora Hannah Arendt em diagnóstico sobre a causa da violência:

“A violência por parte dos cidadãos frequentemente visa desmascarar a hipocrisia dos governantes, e quando estes se veem na contingência de recorrer apenas à violência para se manterem no governo, é porque as instituições políticas, enquanto manifestações das por assim dizer do sopro de vida gerado pelo poder que resulta do apoio da comunidade”.32

E ainda Celso Lafer, ao analisar o pensamento de Hannah Arendt, ensina:

“A violência multiplica, por meio dos instrumentos que a tecnologia fornece de maneira cada vez mais exponencial, o vigor individual. Por isso, a forma extrema de violência é o um contra todos. O que surge do cano de uma arma não é o poder, mas sua negação, e deste poder de negação não brota seu oposto”.33 Para a autora, segundo Celso Lafer, a glorificação da violência é sintoma da frustação dos homens na faculdade de agir sobre mundo, acentuado pela burocratização da vida pública.34

Mais, há esperança, pois cidades que passaram por graves problemas de violência, resolveram a questão. É o caso das cidades de Washington e Nova Iorque nos Estados Unidos, com ações de repressão e inclusão social. Também, a Colômbia resolveu este grave de problema de violência urbana.

Desigualdade social extrema é causa de violência física e simbólica. Darci Ribeiro já disse em Utopias brasileiras : “A dor que mais me dói é envelhecer temendo que os jovens de hoje tenham que repetir, amanhã, que o Brasil é um país que ainda não deu certo”35

É essencial a responsabilidade dos líderes políticos perante o país. Colocar mais fogo na fogueira não resolve os problemas nacionais. Ao contrário, conduz ao agravamento da crise política, econômica e social!

Questões para reflexão sobre o ontem, o hoje e o amanhã do Brasil.

Importante trazer aqui para a consciência do passado, presente e futuro do Brasil.

Dívida pública do governo federal.

Qual é o melhor candidato a presidente da República para resolver o problema da dívida pública? Qual é a melhor proposta de governo para resolver este problema ?

Previdência do setor privado e previdência do setor público

Qual é a melhor proposta de governo para revolver os graves problemas de previdência dos trabalhadores e do funcionalismo público ?

Políticas públicas de geração de emprego

Qual é o melhor candidato melhor preparado para estabelecer políticas públicas de geração de trabalho e renda em nosso país ? Qual é o melhor plano de governo ?

Políticas públicas de educação36

Qual é o candidato que apresenta a melhor proposta para a educação no ensino infantil, ensino médio e ensino universitário ?

Políticas públicas de segurança pública

Qual é o melhor candidato preparado para equacionar o problema da segurança pública?

Políticas públicas de saúde

Qual é o candidato melhor preparado para propor e executar políticas de saúde ?

Políticas públicas de infraestrutura

Qual é a melhor proposta de governo para realizar investimentos em infraestrutura?

Relações com outros Países

Quem é o melhor líder presidencial para representar o Brasil perante outros países ? Que sabe lidar com os desafios da globalização econômica ?

Enfim, são algumas questões, para buscar o consenso mínimo em torno de propostas concretas, em diversos temas, do trabalho, educação, segurança pública, infraestrutura, relações internacionais.

Afinal, temos que encontrar caminhos para aproveitar as oportunidades econômicas que a globalização e as tecnologias oferecem. Se ficarmos paralisados, estaremos perdendo a competividade do Brasil diante de outros países.

O Brasil e os brasileiros vivem momentos difíceis. O Brasil já viveu momentos difíceis com o regime militar. Voltaremos escolher o retorno ao passado autoritário ? Ou vamos caminhar para o futuro, a partir da apresentação de soluções práticas para o urgente presente?

É fundamental o diálogo democrático, sentar na mesa de negociação, a criação de consenso mínimo quanto as alternativas para enfrentar a crise política, econômica e social. Sem união nacional, não haverá solução para os graves problemas do país!

Em situações-limite é fundamental o reestabelecimento da comunicação, por meio do diálogo. A comunicação é inerente à condição humana. A existência humana reside na comunicação e na consciência da existência do eu e dos outros.37

Precisamos de utopias saudáveis e de ações concretas e urgentes, para a inclusão dos milhões de excluídos da sociedade civil organizada e para o bem estar social geral da população.

Da liderança presidencial comprometida com os valores democráticos e com as instituições democráticas

O Brasil não precisa de heróis, civis ou militares! Nem de messias, nem salvadores da Pátria, nem mártires!

Precisa de líderes presidenciais comprometidos com a democracia e com as instituições democráticas.

Precisa de um líder presidente com visão sistêmica do país que compreendam os sistemas estatal, político, econômico e social.

Um presidente da República que compreenda as falhas das instituições democráticas, a fim de possibilitar reformas progressistas, a bem do Brasil e dos brasileiros.

Para o país, não é saudável líderes autoritários. Líderes extremistas são os coveiros da democracia.

Quem tem a percepção profunda do significado da liberdade não vai querer retornar ao passado de regimes autoritários de negação de direitos políticos, de práticas de censura às liberdades civis.

O Brasil precisa de um Presidente da República moderador, capaz de reunir os brasileiros. Um líder à altura do país que execute plano de governo factíveis que tire o país da crise.

Um presidente da República com habilidade política para conseguir o apoio do Congresso Nacional para reformas fundamentais para o país.

Um presidente da República que conecte, comercialmente, o Brasil aos vizinhos da América Latina, aos Estados Unidos, à Europa, Ásia e África. Que saiba promover a abertura comercial do país à competição internacional e que melhore a produtividade nacional!

Precisamos de líderes com experiência prática de governo, com pensamento sistêmico, sem soluções unilaterais, que vejam a sociedade como um todo, mas que respeite cada indivíduo e suas diferenças, e que esteja comprometido com a dignidade humana.

Um presidente da República que compreenda a história do Brasil, para não repetir os mesmos erros dos governos anteriores.

Que compreenda a realidade do povo, seus dramas, suas tragédias, seu sofrimento e suas necessidades, das maiorias e minorias, das crianças, jovens, idosos. Que compreenda as feridas históricas do povo brasileiro: das violências do regime militar, da escravidão de negros, genocídios contra índios, violência contra mulheres, do cenário de extrema pobreza e fome, etc.

Da tolerância à política: como caminho único da democracia.

Não há caminho democrático fora da política. Negar a política, é negar a democracia. Soluções devem alcançadas pela via democrática, do diálogo, da negociação e dos acordos.

Afinal, a lição sábia de Hannah Arendt: “A política trata da convivência entre diferentes. Os homens se organizam politicamente para certas coisas em comum, essenciais num caos absoluto, ou a partir do caos absoluto das diferenças”.38

A negação da democracia não é boa para o Brasil e os brasileiros. A negação da política não é boa para a democracia. O preconceito contra a política é estimulado por aqueles que negam a democracia. Afinal, política e democracia andam juntas.

Conforme lição de Hannah Arendt sobre a liberdade dos antigos e a dos modernos, na organização política, a liberdade de falar não significava que cada uma podia dizer o que bem entendesse. Cada um deveria medir as próprias palavras, aqui, a lição da responsabilidade política!

Hannah Arendt advoga a necessidade de perdão, como capacidade humana necessária para romper com a cadeia de vinganças de erros do passado, cometidos pelas organizações políticas. A pacificação social depende da capacidade de perdoar, inclusive atos de maldade e/ou criminosos.

Brasil, traumas e tragédias. Entre a miséria e a abundância.

Brasil tem tragédias, tem dramas históricos.

A maior tragédia política recente do Brasil foi a morte da democracia no período do regime militar de 1964-1985. Para uns houve golpe militar e ditadura, para outros houve apenas contra-golpe dos militares para garantir a democracia, diante da ameaça comunista e da quebra da hierarquia militar provocada pelo ex presidente João Goulart. Erros de extrema direta e da extrema esquerda foram cometidos. Como disse Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, professores de Harvard, atualmente as democracias não morrem por golpes militares, mas morrem por Presidentes eleitos que vão matando-a com a quebra das normas constitucionais. Discursos de combate à corrupção e criminalização de adversários políticos são os ingredientes para atacar a democracia.

Outras tragédias se repetem ano a ano. Pobreza, homicídios, violência contra negros, contra mulheres, contra minorias. De um lado, há a pobreza, a doença, a penúria de emprego, nível de renda, educação, saúde e segurança. Por outro lado, o País tem a abundância de suas terras, águas, de sol, de suas riquezas naturais, energias, etc.

Albert Camus, em seu discurso ao receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1957, disse:

“É, por isso, os verdadeiros artistas não desprezam nada; eles se obrigam a compreender em vez de julgar. E, se eles têm um partido a tomar nesse mundo, não pode ser outro que não aquele de uma sociedade onde, de acordo com a grande palavra de Nietzsche, não reinará mais o juiz, mas o criador, seja ele trabalhador ou intelectual”.

E, conclui, Camus: “Cada geração, sem dúvida, crê-se fadada a refazer o mundo. A minha entretanto, sabe que ela não o refará. Mas sua tarefa seja, talvez, maior. Ela consiste em impedir que o mundo se desfaça”.

Brasil: o seu presente e seu futuro, com a análise de sua história.

Que a vitória de 2018 seja da mentalidade democrática. Que predomine a inteligência política do que a ignorância. Que seja derrotada nas urnas a mentalidade autoritária. Que as mãos da centro-esquerda e da centro-direita possam se unir, a caminho da democracia. Que a cultura da paz seja o caminho incorporado nas mentes e corações dos brasileiros. Que haja a consciência da unidade do destino comum, maior que a divisão política. Que haja a conscientização histórica dos brasileiros sobre seus fantasmas do colonialismo, negação da democracia durante o regime militar, de extrema desigualdade social, da pobreza, escravidão de negros, índios, violência contra mulheres, crianças e idosos, entre tantos outros. Que as patologias das instituições democráticas brasileiras sejam corrigidas. Que o Brasil-paciente seja adequadamente tratado com remédios adequados. Que os remédios propostos por alguns não sejam venenos que matem a democracia! Que a cultura da responsabilidade política, comprometida com a democracia e suas instituições, prevaleça nas mentes e corações dos brasileiros! A salvação da democracia está consciência política dos brasileiros, com a compreensão dos fatos, sem julgamentos parciais e unilaterais. A sabedoria política está na moderação, nem um extremo, em outro, para substitui-lo. A busca do caminho do meio, entre as extremidades, para preservar as regras do jogo democrático.

____________________

1 Ver site IPEA.

2 Ver: Cardoso. Fernando Henrique. Carta aos brasileiros, de 20.9.2018.

3 Ver: Cardoso. Fernando Henrique. Carta aos brasileiros, de 20.9.2018.

4 Por sua vez, o termo centrão no Brasil é utilizado para designar partidos políticos associados às práticas fisiológicas em torno da proximidade com o governo, seja ele for.

5 O cenário político de radicalização e divisão do País gira, entre diversos, em torno dos seguintes fatos. Em 2016, houve o impedimento pelo Congresso Nacional da Presidenta Dilma, sob a acusação de crimes de responsabilidade fiscal. Em seu lugar, assumiu o vice-Presidente Michel Temer. Em 2018, foi decretada a prisão do ex Presidente Lula, pela prática de crimes comuns de corrupção e lavagem de dinheiro. Também, seus direitos políticos foram cassados devido à condenação judicial pela Justiça Federal e o registro de sua candidatura foi negado pela Tribunal Superior Eleitoral, sob o fundamento da Lei da Ficha Limpa.

6 Ver: Levitsky, Steven e Daniel Ziblatt. Como as democracias morrem. Zahar, 2018, kindle.

7 Ver: Lafer, Celso. A reconstrução dos direitos humanos. Um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: Companhia das Letras.

8 Babel. Entre a incerteza e a esperança. Rio de Janeiro, 2016, p. 28.

9 Para o conhecimento desta história brasileira, ver o livro Brasil: uma biografia, de Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling. São Paulo: Companhia das Letras, 2015,

10 Obra citada, p. 453.

11 Cony, Carlos Heitor. O ato e o fato. O som e a fúria do que se viu no Golpe de 1964. 9º edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 2014.

12 Obra citada, p. 470.

13 No âmbito econômico, no meu livro Temas de Direito da Comunicação, apresento as principais decisões históricas do Supremo Tribunal Federal nos setores de internet telecomunicações, televisão por radiodifusão e TV por assinatura, publicado na Amazon.

14 Platão, as Leis, p. 71.

15 Recondo, Felipe, Tanques e togas. O STF e a ditadura militar, p. 280.

16 Paulo Coelho, em seu livro Hippie, narra o episódio de sua prisão arbitrária, em Ponta Grossa em 1968, em 1974, quando ele compunha letras de música, o que lhe causa pesadelos até hoje.

17 Farhat, Said. Tempo de Gangorra. Visão panorâmica do processo político-militar no Brasil de 1978 a 1980.

18 Hamilton, Alexandre, Madison, James. Jay, John, O Federalista 3 edição. Campinas, 2009.

19 Brasil: uma biografia, p. 366.

20 Ver: Hett, Benjamin Carter. The death of democracy. Hitler’s rise to power and the downfall of the Weimar Republic, Kindle.

21 Schirer. William. Ascensão e Queda do Terceiro Reich (triunfo e consolidação – 1933-1939). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017, p. 291.

22 Schirer. William. Ascensão e Queda do Terceiro Reich (triunfo e consolidação – 1933-1939). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017, p. 308.

23 Constituição de Weimar: “Art. 48. In the event of a State not fulfilling the duties imposed upon it by the Reich Constitution or by the laws of the Reich, the President of the Reich may make use of the armed forces to compel it to do so. If public security and order are seriously disturbed or endangered within the German Reich, the President of the Reich may take measures necessary for their restoration, intervening if need be with the assistance of the armed forces. For this purpose he may suspend for a while, in whole or in part, the fundamental rights provided in Articles 114, 115, 117, 118, 123, 124 and 153. The President of the Reich must inform the Reichstag without delay of all measures taken in accordance with paragraphs 1 or 2 of this Article. These measures are to be revoked on the demand of the Reichstag. If danger is imminent, a State government may, for its own territory, take temporary measures as provided in paragraph 2. These measures are to be revoked on the demand of the President of the Reich or of the Reichstag. Details are do be determined by a law of the Reich”.

24 Ver: Wikipedia – Lei de Concessão de Plenos Poderes de 1933.

25 Ver: Agamben, Giorgio. O que resta de Auschwitz. O arquivo e a testemunha. São Paulo: Boitempo, 2008.

26 Ver Sobre a violência, Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2018, p. 11.

27 Bobbio, Norberto. O problema da Guerra e as vias da Paz, citado em Zweig, Stefah. A unidade espiritual do mundo. Memória Brasil, p. 40.

28 Bobbio, Norberto. Teoria Geral da Política. A filosofia política e as lições dos clássicos, p. 483-484.

29 Cf. Teoria Geral da Política, p. 532.

30 Obra citada, p. 536.

31 Banalidade do mal é expressão criada pela pensadora Hannah Arendt ao estudar os horrores contra a humanidade cometidos no período do holocausto, do genocídio nazista cometido contra os judeus.

32 Lafer, Celso, Hannah Arendt. Pensamento, Persuasão e Poder, p. 93.

33 Obra citada, p. 235.

34 Obra citada, p. 235.

35 Utopia Brasil, p. 36.

36 Afinal, no cenário internacional, o Brasil apresenta péssimos índices de educação. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mais da metade dos brasileiros (52%) com idade entre 25 e 64 anos não concluíram o ensino médio. Estamos falando de um universo de mais de 100 (cem) milhões de jovens brasileiros sem o ensino médio. Os países vizinhos como Argentina, Chile e Colômbia estão preparando melhor seus jovens para o futuro. Qual é o futuro do Brasil, sem cuidar da inclusão educacional e econômica dos seus jovens ?

37 Ver: Arendt, Hanna. Compreender. Formação, exílio, totalitarismo, p. 215. Ela cita a noção de comunicação de Jaspers.

38 Arendt, Hannah. O que é Política ? p. 21.

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Internet das coisas no Brasil: a consulta pública da Anatel sobre a regulamentação das aplicações de IoT e comunicação máquina a máquina

A internet das coisas, denominada Internet of Things (IoT), é tendência de mercado em aplicações de internet.

A internet das coisas é a infraestrutura de conexão física ou virtual entre objetos, mediada por dispositivos, baseados em tecnologia da informação e da comunicação. Esta rede possibilita a coleta, o processamento, o tratamento e o compartilhamento de dados referentes aos objetos físicos e/ou virtuais.1

O artigo apresenta os desafios regulatórios na regulamentação do tema no Brasil, com o destaque à abertura pela Anatel de consulta pública, no mês de setembro de 2018, sobre questões relacionadas à IoT.

Em destaque, na consulta pública da Anatel, questões relacionadas à classificação das aplicações de IoT, regras de outorga e licenciamento, uso das frequências do espectro, tributação, entre outras, a frente analisadas.

Aplicações de IoT

Há aplicações de IoT nas casas e edifícios. Produtos de IoT para casas inteligentes – controle de temperatura, luz e segurança e consumo de energia elétrica – Alexa, assistente virtual, comercializada pela Amazon2. Em edifícios, aplicações de Iot no âmbito da segurança, como controle biométrico da entrada de pessoas, bem como o controle de veículos, nas garagens.

Na indústria, há projetos de IoT de digitalização das fábricas e robotização, fabricação de carros autônomos, etc. A denominada indústria 4.0 utiliza sensores, com redes wireless, para melhorar a produtividade nas fábricas, controlando as condições de estoque, monitoramento do transporte dos produtos, bem como as condições ambientais de fabricação.

No setor do comércio, aplicações de IoT para o monitoramento de frota de veículos, rastreamento de containers em portos e navios entre outros, controle do estoque em centro de distribuição logística, entre outras.

Na agricultura, a irrigação inteligente, controle de equipamentos agrícolas, rastreamento de plantação, com drones, monitoramento das condições climáticas. Na agropecuária, monitoramento do gado no pasto.

Na saúde, o monitoramento remoto de pacientes crônicos, rastreamento de medicamentos de alto custo, sensores podem controlar temperaturas de equipamentos, tais como brocas cirúrgicas utilizadas em cirurgias de prótese de quadril, entre outras aplicações.

Nos governos, projeto de IoT de cidades inteligentes, redes de energia de iluminação pública com sensores inteligentes, semáforos baseados no tráfego, etc.

No setor financeiro, uma das aplicações da internet das coisas, são as comunicações máquina a máquina. Exemplo: empresas de pagamentos eletrônicos, por aplicativos de internet móvel, em pequenas máquinas.

Novos modelos de negócios de aplicações de IoT que realizam serviços financeiros, mediante comunicação máquina a máquina, demandam o conhecimento da regulação setorial, adotada pela Anatel. Isto porque o negócio pode depender de uma rede virtual de uma operadora de serviços de comunicação móvel ou não. Poder ser que o modelo de negócios de aplicação de IoT utilize ou não frequências do espectro.

Em outras palavras, as aplicações de IoT dependem da infraestrutura de rede de telecomunicações. Daí a necessidade de verificação do modelo de negócios de Iot para saber que ele precisará, inclusive, de uma outorga de serviço de valor adicionado à rede telecomunicações ou de autorização de espectro de frequências. Daí o papel regulatório da Anatel na clareza quanto ao marco regulatório incidente sobre as aplicações de Iot.

IoT: riscos à segurança e à privacidade

A internet das coisas tem o potencial de coletar dados pessoais de milhões de pessoas. Existem os possíveis riscos à segurança dos dados pessoais e à privacidade, com o monitoramento remoto por dispositivos tecnológicos de seus hábitos de consumo, sua localização, seus comportamentos, suas preferências, entre outros aspectos.

É importante que a sociedade tenha consciência dos riscos da hipervigilância causados pelas redes de IoT, bem como os possíveis riscos à liberdade digital. A partir daí, o legislador pode definir, em legislação adequada, os limites das aplicações de IoT.

Aplicações de IoT e a demanda por conectividade, mediante a utilização da infraestrutura de rede de telecomunicações

A internet das coisas demanda infraestrutura de redes digitais de comunicações. É essencial a existência de redes de transportes de dados e redes de acessos, em alta velocidade.

A rede de internet 5G, uma rede de alta velocidade (expectativa de velocidades de 100 Mbps para 10 Gbps), é fundamental para a IoT. Esta rede 5G depende de redes de antenas de telefonia celular e fibras óticas e soluções de softwares baseados na denominada nuvem (cloud computation).

Desafios da regulamentação das aplicações de IoT.

No Brasil, a internet das coisas não está ainda regulamentada.

É necessária a regulação, por lei e por decreto, acompanhada de medidas de autorregulação pelas empresas que ofereçam dispositivos de internet das coisas.

Para além da regulação, outra função do governo é fomentar a iniciativa privada quanto à realização de investimentos para construção da infraestrutura de rede de internet das coisas.3

Há, apenas, no Brasil, a menção da internet das coisas no decreto 9.319/18 que institui o sistema nacional de transformação digital.

Este decreto aborda temas como infraestruturas de redes de transporte de dados e acesso à internet, por banda larga fixa e móvel, transformação digital da economia, educação e capacitação profissional, economia baseada em dados, novos modelos de negócios.

O decreto 9.319/18 apenas menciona o seguinte: “ao reconhecer o potencial transformador das aplicações da internet das coisas, devem ser estabelecidos ações e incentivos destinados à contínua evolução e disseminação dos dispositivos e das tecnologias associadas”.

Anatel: a consulta pública sobre a regulamentação das aplicações de IoT

Recentemente, a Anatel abriu consulta pública 31, de setembro de 2018, para a reavaliação da regulamentação para fins de expansão das aplicações IoT.

A agência reguladora apresenta como eixos temáticos para análise de impacto regulatório: a) a outorga dos serviços de IoT, a partir dos novos modelos de negócios; b) as regras de prestação dos serviços de IoT; c) a questão da tributação e licenciamento dos serviços de IoT; d) a numeração para atender a demanda dos dispositivos IoT (utilizado para endereçamento e identificação em qualquer rede no mundo); e) a segurança cibernética em dispositivos IoT (medidas de certificação e homologação dos dispositivos IoT); f) a faixa de espectro disponível para IoT (e, também, a realização de licitações não arrecadatórias para novas frequências); g) a infraestrutura de banda larga para suportar serviços IoT, h) acordos de roaming nacionais, considerando-se a oferta de serviços IoT baseadas em fornecedores de conectividade globais.

Como um dos fundamentos para a abertura da consulta pública, a Anatel cita o plano nacional de IoT, bem como a câmara de IoT, estabelecida na forma do decreto 8.234/144. Este decreto, regulamenta o art. 38 da lei 12.715/12, o qual trata da tributação das comunicações máquina a máquina. Conforme este ato normativo o ministro das comunicações (atualmente, ministério de ciência, tecnológica, inovação e comunicação), criará câmara de gestão e acompanhamento do desenvolvimento dos sistemas de comunicação máquina a máquina. E, ainda, conforme o decreto, compete à Anatel regulamentar e fiscalizar as disposições do decreto.

Segundo a Anatel, a câmara de IoT tem a função de gerir e acompanhar o desenvolvimento de sistemas de comunicação máquina a máquina, para fins de aplicação do art. 38 da lei 12.715/12, que trata da tributação das aplicações máquina a máquina. Destaque-se que a lei se refere unicamente à questão da tributação das aplicações de IoT.

Conforme ainda a Anatel, alguns modelos de negócios para IoT/M2M (comunicação máquina a máquina) não estão enquadrados conforme as características típicas dos serviços de telecomunicações, na forma da regulamentação em vigor. Daí a necessidade de ajustes na regulamentação dos serviços de IoT/M2M.

Também, aponta para a falta de flexibilidade da regulamentação da exploração do serviço móvel pessoal (SMP), por meio da rede virtual para aplicações de IoT.

De acordo com a Anatel, algumas das aplicações de IoT utilizam como suporte os serviços de telecomunicações, na modalidade serviço móvel pessoal.

Acontece que o serviço de telecomunicações é regulamentado a partir de carga obrigacional baseada na comunicação entre pessoas, daí exigência de obrigações de proteção ao consumidor e de qualidade.

No entanto, estas obrigações consumeristas e de qualidade da regulamentação de telecom não têm sentido no campo das aplicações de IoT. Daí um dos possíveis caminhos seja estabelecer o regime diferenciado para as aplicações de IoT, inclusive com a possibilidade de a questão ser definida em regime contratual.

Também, no modelo de credenciamento por rede virtual (MNO – mobile network operator) exige-se a vinculação a um prestador de origem. Entretanto, tal exigência não faz sentido na aplicação de IoT. Dentre as alternativas, o estabelecimento de regime diferenciado para aplicação de IoT, por rede virtual, a partir do serviço móvel pessoal.5

Debate sobre a classificação jurídica das aplicações de IoT

Há o debate sobre a classificação jurídica da internet das coisas.

Há a tendência em classificá-la como serviço de valor adicionado à rede de telecomunicações. O conceito de serviço de valor adicionado está presente na lei geral de telecomunicações, em seu art. 61.6 É, porém, distinto do conceito de serviço de telecomunicações, o qual engloba, tradicionalmente, o serviço de telefonia fixa e o serviço móvel pessoal.

Consequentemente, se classificada a internet das coisas, como serviço de valor adicionado haverá possivelmente a tributação municipal, por ISS.

Diversamente, se a internet das coisas for classificada como serviço de telecomunicações, haverá a incidência da tributação estadual por ICMS.

Propostas legislativa de isenção de tributação sobre comunicação máquina a máquina, para fomentar o desenvolvimento dos modelos de negócios de aplicações e IoT

Há alguns projetos de lei com o intuito de afastar a cobrança de taxas e contribuições sobre as estações de IoT. É o caso do projeto de lei 7.656/17.

O projeto de lei (substitutivo ao projeto de lei 7.656/17) atribui à Anatel a competência para definir o conceito de comunicação máquina a máquina, para fins de aplicação da regra que prevê a isenção da tributação da contribuição para o fomento da radiodifusão pública e da contribuição para o desenvolvimento da indústria cinematográfica.7

Ora, é complicado a delegar à agência reguladora a definição deste tipo de conceito de comunicação máquina a máquina, para fins de tributação. É a lei que deve definir este conceito. É o que impõe o princípio da estrita legalidade tributária. Caso contrário, cria-se cenário de incerteza e insegurança jurídica, na aplicação prática do conceito no âmbito da regulação setorial da internet das coisas, com riscos de judicialização do tema.

Na consulta pública da Anatel, há o registro do problema da incidência de taxas de licenciamento de estações (taxa de fiscalização de instalação – TF1 e taxa de fiscalização de funcionamento – TFF) que podem inviabilizar os modelos de negócios de internet das coisas (IoT/M2M).

Há o debate sobre as alternativas no sentido de isentar ou zerar as taxas de licenciamento de terminais IoT/M2M, com a dispensa do licenciamento de terminais IoT/M2M ou a tributação baseando-se em percentual da receita sobre os negócios e não por dispositivos.

Questão da neutralidade da rede

Outro desafio regulatório é a questão da neutralidade da rede, prevista no marco civil da internet. Com a implantação com as redes de IoT haverá possivelmente a demanda para a flexibilização da neutralidade da rede. Exemplo: a internet das coisas no âmbito de comunicação entre veículos, com a priorização dos serviços de ambulâncias, é citado, como demanda para flexibilizar a neutralidade da rede.

Por exemplo, nos Estados Unidos, diante da ambiguidade legal no communication act, há a controvérsia em torno da neutralidade da internet. Inicialmente a federal communication comission, sob o governo Obama, classificou os serviços de conexão à internet como serviços de telecomunicações, para fins de garantia das obrigações quanto à neutralidade da rede. Posteriormente, a agência reguladora, sob o governo Trump, afastou a neutralidade da rede.

Diversamente, aqui, o conceito de neutralidade da internet foi definido pelo marco civil da internet.

Frequências do espectro

Outra questão é a definição da faixa de espectro de frequências a ser utilizada pela IoT, a faixa licenciada e a não licenciada, a ser decidida pela Anatel. Por exemplo, a internet das coisas depende da rede de comunicação sem fio (wireless).

Padrões de segurança e privacidade das aplicações de IoT

Outro desafio para a regulação da IoT, é a definição de padrões de segurança e privacidade nos dados coletados através dos dispositivos fixos e móveis. Também, é indispensável a regulação para a proteção de dados pessoais dos usuários das aplicações de internet das coisas.

Neste aspecto, cumpre destacar que o Brasil aprovou, recentemente, a lei 13.709/18 que trata da proteção de dados pessoais, com regras para as empresas privadas e o setor público. Há, inclusive, regras sobre a transferência internacional de dados pessoais entre empresas.

Se a arquitetura da rede de IoT não for adequadamente realizada há sérios riscos à segurança e à privacidade dos dados, transportados pelas redes. Por razões de segurança, é fundamental a identificação digital dos objetos físicos e virtuais.

Panorama internacional sobre cibersegurança e IoT

O tema da internet das coisas está diretamente associado à questão da cybersegurança.

Neste aspecto, a consulta pública da Anatel coloca em debate as questões de certificação e homologação dos dispositivos de IoT.

Por exemplo, os Estados Unidos aprovou o internet of things (IoT) cybersecurity improvement act of 2017.

Este ato norte-americano apresenta padrões dos dispositivos de internet das coisas adquiridos pelas agências federais. Assim, os fornecedores e operadores de equipamentos de internet das coisas (exemplo: o desenho dos chips utilizados nas máquinas e redes) para o governo norte-americano e suas agências devem se adequar às diretrizes de cybersegurança.

Também, recentemente, o legislador da Califórnia aprovou projeto de lei (senate bill – SB 327) para a proteção da privacidade da informação em dispositivos conectados (IoT).

Conforme o projeto de lei, o fabricante de dispositivos conectados deve seguir padrões de razoável segurança, conforme os seguintes aspectos: apropriado conforme a natureza e função dos dispositivos tecnológicos, apropriado à informação coletada, armazenada e transmitida; desenhada para proteger o dispositivo e qualquer informação armazenada diante de acessos não autorizados, destruição, uso, modificação ou abertura, entre outras regras. O projeto de lei, se sancionado pelo governador da California, entrará em vigor em janeiro de 2020.

Segundo críticos, o projeto de lei é um primeiro passo, ainda que com definições superficiais e incompletas de segurança. Para os críticos, o projeto de lei não indica as medidas de segurança, tais como atestado de dispositivo, assinatura de código e auditoria de segurança em firmware, adquiridos de fornecedores de dispositivos IoT que compram de fornecedores no exterior. Também, o projeto de lei não definiria responsabilidade na hipótese de acesso não autorizado, mediante chaves de criptografia codificadas.8

Ou seja, o tema da internet das coisas está diretamente associado à questão da defesa cibernética nacional, diante de ameaças externas. Ataques cibernéticos em redes pública e privadas por hackers apresentam desafios quanto à defesa nacional.

Em síntese, nos Estados Unidos há regras para a segurança em IoT baixadas pelo Congresso Nacional a serem seguidas pela indústria. Lá, ainda, debate-se se deve haver a obrigatoriedade da certificação dos dispositivos de IoT.

Para compreender melhor o contexto, os Estados Unidos adotou medidas para impedir que a China comprasse companhias norte-americanas no setor de tecnologia (fabricantes de chips de computadores e telefones celulares). Para além da questão da competividade internacional, há alegações de riscos à segurança nacional. Daí a guerra comercial entre Estados Unidos e China neste campo da cibersegurança.

O tema deve ser analisado a partir do contexto da big Picture, caracterizado pelo cenário da guerra comercial entre Estados Unidos e China, em matéria de liderança tecnológica.

O programa de governo da China denominado made in china 2025 tem objetivos claros no sentido de buscar a sua autonomia tecnológica, mediante a fabricação de chips de aparelhos celulares, robôs, bem como a digitalização de sua indústria. Daí todo o debate internacional em torno de propriedade intelectual, transferência de tecnologias, cibersegurança, etc.

Oportunidades nas aplicações de IoT

A IoT apresenta imensas oportunidades para as empresas de telecomunicações, os provedores de conexão à internet, bem como para as empresas que exploram este tipo de negócios. Cria demandas para a criação de datacenters e implantação de mais redes de antenas celulares9. Há inclusive linhas de crédito para startups no segmento de IoT, no BNDES (via FINEP).

Há desafios e oportunidades imensos para as empresas fabricantes de dispositivos IOT, operadores de rede IoT, e as startups com novos modelos de negócios, baseados em IoT.

Em síntese, o tema da regulação da internet das coisas repercute, significativamente, no presente e no futuro próximo.

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1 Segundo definição da União Internacional de Telecomunicações, internet das coisas: “é uma infraestrutura global para a sociedade da informação, que habilita serviços avançados por meio da interconexão entre coisas (físicas e virtuais), com base nas tecnologias de informação e comunicação (TIC)”.

2 Há o relato de problemas quanto à segurança e privacidade das pessoas, em razão da utilização de dispositivos tecnológicos que podem gravar toda as conversas realizadas próximas ao equipamento. Há casos, inclusive, de babás eletrônicas atacadas por hackers que monitoram as crianças e o ambiente da casa. Daí nos Estados Unidos movimentos dos consumidores para exigir medidas de proteção à segurança e à privacidade, em relação aos produtos de IoT.

3 Google anunciou a realização de investimentos de U$ 140 milhões de dólares para expandir seu data center no Chile. É o primeiro data center do google na América Latina que servirá como infraestrutura para de oferta de serviços de computação em nuvem (cloud computation). A escolha do Chile foi motivada, segundo noticia a imprensa, pelo ambiente favorável à realização de investimentos estrangeiros, marco regulatório claro e fontes de energias renováveis. O Brasil perdeu a oportunidade de atrair este tipo de investimento de uma companhia global, para criar empregos e gerar renda no país. O fato atesta o atraso do país na construção de uma política para fomentar investimentos em data center em território nacional e, consequentemente, para competir no cenário internacional. Por sua vez, a India aprovou, recentemente, lei para obrigar empresas de tecnologia estrangeiras para armazenar dados pessoais dos usuários em seu território. A lei impacta as empresas Facebook, PayPal, Mastercard, entre outras.

4 Portaria 5.507, de 30 de novembro de 2016, do ministério da ciência, tecnologia, inovações e comunicações trata da organização da câmara de gestão e acompanhamento do desenvolvimento de sistemas de comunicação máquina a máquina e internet das coisas (câmara IoT), modificando a portaria 2.066, de 10 de maio de 2016. Esta portaria 2.006/16 dispõe, originariamente, o seguinte: “Art. 1º. fica criada a câmara de gestão e acompanhamento do desenvolvimento de sistemas de comunicação máquina a máquina e internet das coisas (câmara IoT) incentivados no âmbito do art. 38 da lei 12.715, de 17 de setembro de 2012, que terá como objetivos: I – acompanhar a evolução e o surgimento de novas aplicações máquina a máquina e internet das coisas resultantes da desoneração prevista no art. 38 da lei 12.715/12; II – subsidiar a formulação de políticas públicas que estimulem o desenvolvimento de sistemas de comunicação máquina a máquina e internet das coisas voltados para setores prioritários; e III – promover e coordenar a cooperação técnica entre prestadoras de serviços de telecomunicações fabricantes de equipamentos do setor de telecomunicações e entidades de ensino e pesquisa”.

5 A Anatel, em julho de 2018, autorizou à empresa safra telecomunicações para explorar o serviços de operadora de rede virtual de telecomunicações (MVNO).

6 Conforme lei geral de telecomunicações: “Art. 61. Serviço de valor adicionado é a atividade que acrescenta, a um serviço de telecomunicações que lhe dá suporte e com o qual não se confunde, novas utilidades relacionadas ao acesso, armazenamento, apresentação, movimentação ou recuperação de informações. §1º. Serviço de valor adicionado não constitui serviço de telecomunicações, classificando-se seu provedor como usuário do serviço de telecomunicações que lhe dá suporte, com os direitos e deveres inerentes a essa condição”.

7 Art. 38. O valor da taxa de fiscalização de instalação das estações móveis do serviço móvel pessoal, do serviço móvel celular ou de outra modalidade de serviço de telecomunicações, nos termos da lei 5.070, de 7 de julho de 1966, e suas alterações, que integrem sistemas de comunicação máquina a máquina, definidos nos termos da regulamentação a ser editada pelo Poder Executivo, fica fixado em R$ 5,68 (cinco reais e sessenta e oito centavos). (Regulamento) Parágrafo único. A taxa de fiscalização de funcionamento será paga, anualmente, até o dia 31 de março, e seus valores serão os correspondentes a 33% (trinta e três por cento) dos fixados para a taxa de fiscalização de instalação. Por sua vez, o decreto 8.234/14, regulamenta o art. 38 da lei 12.715/12, definindo o seguinte: “Art. 1º. Para fins do disposto no art. 38 da lei 12.715, de 17 de setembro de 2012, são considerados sistemas de comunicação máquina a máquina os dispositivos que, sem intervenção humana, utilizem redes de telecomunicações para transmitir dados a aplicações remotas com o objetivo de monitorar, medir e controlar o próprio dispositivo, o ambiente ao seu redor ou sistemas de dados a ele conectados por meio dessas redes”.

8 A imprensa noticiou incidente de segurança na Amazon em que supostamente funcionários teriam vazados Código de acesso ao Sistema da empresa.

9 Recentemente, a imprensa noticiou a expansão do data center do google no Chile. A escolha para investir neste país deve-se à estabilidade política, ao marco regulatório para atrair investimentos privados e à estabilidade econômica.

Artigo publicado no portal jurídico Migalhas em 24/09/2018.