A próxima geração de internet sem fio, o 5G ou “quinta geração”, é a evolução das redes anteriores 3G e 4G que promete revolucionar diversas áreas da sociedade com aplicações práticas que possibilitarão a implantação da chamada “internet das coisas” e a criação de “cidades inteligentes”.
Na prática, isso significa uma velocidade 100 vezes maior do que a o máximo de performance alcançado hoje por uma rede 4G. Se a média da velocidade desta fica em torno de 35 Mbps (megabits por segundo), com uma performance máxima de 100 Mbps, a 5G pode chegar a uma velocidade entre um a dez Gbps (Gigabits por segundo).
“O 5G trabalha com larguras de bandas maiores e frequências mais altas, o que resulta em uma taxa de download e upload muito maior do que a do 4G. Isso fará com que todo tipo de consumo que temos hoje de mídias, streamings, redes sociais, fique mais rápido e instantâneo”
Rodrigo Porto, pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação da UFC (Universidade Federal do Ceará) e coordenador do Grupo de Pesquisa em Telecomunicações sem Fio (GTEL)
“Além da velocidade, as redes 5G prometem cobertura mais ampla e conexões mais estáveis, possibilitando transferência de maior volume de dados, além de um número maior de conexões simultâneas”
Eduardo Borba, vice-presidente da Softline para o Brasil, empresa global de soluções e serviços de TI com foco em mercados emergentes
No entanto, mais do que a melhoria da velocidade de upload e download, o principal avanço introduzido com o 5G é a redução da latência (tempo de resposta de um aparelho entre receber o sinal e executar uma ordem). Isso permitirá respostas rápidas por parte de equipamentos interligados, possibilitando a execução de tarefas complexas e minuciosas em tempo real, como a cirurgia robótica a distância (telecirurgia).
“De maneira geral, ela permite o controle de todo tipo de robôs a distância, como tratores em uma mina perigosa e carros autônomos, que precisam de respostas muito rápidas”, afirma Porto.
O potencial de aplicação do 5G é enorme e abrange áreas como agricultura, com a coleta de dados agrícolas e monitoramento das lavouras e da saúde dos animais em tempo real; medicina, com a telecirurgia e a criação de hospitais digitais com equipamentos interligados pela “internet das coisas”; indústria, com a robotização das fábricas; varejo, por meio de experiências de compra mediante o uso de realidade aumentada e virtual; e construção civil, com a criação de edifícios inteligentes.
“No segmento educacional, também há a possibilidade de utilização de realidade aumentada e virtual, inclusive com sistema de holografia para possibilitar a telepresença; e na área ambiental, há diversas oportunidades para serviços ambientais de monitoramento em tempo real de florestas, prevenção de riscos de incêndios, controle de consumo de água e de ruídos urbanos etc.”
Ericson Scorsim, advogado consultor com foco em Direito da Comunicação e autor do livro “Jogo Geopolítico entre Estados Unidos e China na Tecnologia 5G: Impacto no Brasil”.
No entanto, essas transformações não ocorrerão do “dia para a noite”, lembra o pró-reitor da UFC, pois será necessária a instalação gradual de antenas de 5G pelo país, o que deverá ocorrer inicialmente nas grandes cidades e áreas de maior demanda. “As pessoas também precisarão adquirir aparelhos 5G novos, que não serão baratos, em um processo semelhante ao do 3G e 4G”.
No Ceará, a UFC possui, há 20 anos, o GTEL, grupo que estuda exclusivamente tecnologias de telecomunicações sem fio, entre elas o 5G. “É um grupo bem consolidado nacional e internacionalmente que possui uma parceria de anos com a multinacional Ericsson. Através dela, o grupo desenvolveu alguns algoritmos e abordagens de antenas inovadoras que contribuíram para que se tenha o aumento de capacidade para um gigabit por segundo e a redução de latência, tornando o 5G essa tecnologia tão atrativa”, explica Porto.
Segundo o professor, com o investimento da Ericsson e a formação de estudantes de pós-graduação com bolsas de estudo, pesquisas resultaram em novas tecnologias, notadamente na área de arquitetura de antenas inteligentes, elaboradas para suportar a elevada velocidade do 5G.
Internet das Coisas
Com a redução da latência proporcionada pelo 5G, será possível aprimorar a chamada “Internet das Coisas” (IoT, sigla em inglês), conceito que se refere à interconexão digital de objetos cotidianos com a internet, o que permite que eles armazenem dados e executem tarefas dos mais diversos tipos.
No mundo permeado pela IoT, não apenas celulares e computadores estarão conectados à rede mundial, mas tudo ou quase tudo, de carros e eletrodomésticos a vestimentas.
“Com a introdução do 5G, inúmeros dispositivos, quer seja um ‘smartwatch’, um veículo autônomo ou até mesmo uma linha de montagem mecanizada, podem ser monitorados globalmente, permitindo não apenas acelerar seus processos produtivos, mas também se adequar ao dinamismo de novas demandas do mercado”, afirma o vice-presidente da Softline para o Brasil
“O 5G foi pensado para conectar um número grande não apenas de pessoas, como no caso dos smartphones, mas principalmente de objetos. Essa tecnologia foi criada com a capacidade para gerenciar uma quantidade imensa de sensores e dispositivos, o que leva a ideia de Internet das Coisas para o mundo com as ‘cidades inteligentes’ (smart cities)”, defende Porto.
No âmbito das cidades inteligentes, que podem ser definidas como aquelas que conseguem alinhar avanços tecnológicos com o progresso social e ambiental por meio da ajuda de tecnologias digitais e disruptivas que se utilizam de dados para tomar decisões, há diversas aplicações para a IoT.
Ela pode ser usada para a segurança (videomonitoramento e reconhecimento facial em tempo real em espaços públicos); trânsito (identificação de padrões no fluxo de carros e pedestres para melhorar o deslocamento); meio ambiente (aumento na eficiência do uso de energia elétrica e de recursos naturais como a água), entre outros. Para 2025, uma previsão feita pela empresa Huawei estima que, com a IoT generalizada, teremos 100 bilhões de aparelhos conectados.
5G no Brasil
Para que tudo isso possa se transformar em benefícios reais para a população, é preciso a implementação de políticas públicas por parte dos governos que incentivem a disseminação da tecnologia pelo país. “Ao mesmo tempo, é necessário o fortalecimento de uma política de segurança cibernética em 5G e IoT, pois há riscos e ameaças em relação a estas infraestruturas de comunicações”, destaca Scorsim.
De acordo com declaração do ministro das Comunicações, Fábio Faria, ao programa “Voz do Brasil” no último dia 25, após a aprovação do edital do leilão da internet 5G pelo TCU (Tribunal de Contas da União), a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) tem prazo de uma a duas semanas para publicar o edital do certame, que deve ser realizado em outubro.
“A adoção em escala nacional passa por um processo regulatório, que é um leilão de frequência, conduzido pela Anatel. A expectativa é que até o fim desse ano tenhamos definidos as faixas de frequência, as operadoras vencedoras do leilão e esperamos que, no início de 2022, o 5G dispare no Brasil, porque os equipamentos já estarão disponíveis e as operadoras, preparadas”, relata Porto.
Para Scorsim, o 5G certamente contribuirá para o aumento do PIB do Brasil, já que ele impacta a indústria, o comércio e o setor de serviços como um todo. “A nova tecnologia demanda a formação de profissionais especializados em hardware, software e serviços. Gera oportunidades para investidores, empreendedores e trabalhadores. Possibilita o aumento da arrecadação para os governos e também proporciona hubs de inovação, com ecossistemas de startups com novos modelos de negócios digitais”.
Segundo Borba, um país extenso como o Brasil, que conta com grande influência do agronegócio em seu PIB, sentirá sem dúvidas o impacto do 5G. “O setor agrícola poderá otimizar sua produção e minimizar as perdas pelas variações climáticas”.
Além disso, para ele será necessário que provedores locais ou regionais desenvolvam ofertas que possam atender às demandas de regiões ou segmentos de mercado específicos, pois sem isso regiões remotas, onde os grandes provedores internacionais ainda não operam, não poderão se beneficiar da nova tecnologia.
Por fim, faz-se necessária a consciência situacional a respeito dos desafios, riscos e oportunidades trazidos pela tecnologia 5G. “A conectividade em larga escala é uma condição fundamental para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil. Por isso, deve ser colocada como uma prioridade nacional. Governos, empresas, cidadãos e a sociedade civil ganharão com esta nova tecnologia”, analisa Scorsim.
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